sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Bilhete de Fevereiro

Postal fornecido pelo Sr. Gugle
Durante o tempo em que eu vivi em São Vicente verifiquei o que ainda hoje persiste na mente de muitos dos residentes nas ilhas de Barlavento, exceptuando os que vivem nesta cidade ou em Santiago, que acabaram por corrigir a linguagem senão a inércia. Aqueles outros, ainda entendem e dizem Praia Ilha em vez de Ilha de Santiago, se as bananas, as verduras, são produzidas e exportadas directamente do concelho de Santa Cruz via o porto da Praia. Diz-se banana da Praia, e muitas outras coisas são tidas como sendo da Praia, quando realmente não são. Por exemplo o Abrão Vicente, o Djinho Barbosa, a Zau são de Santa Catarina (pelos a mim afirmou isso). Talvez a força e o peso da administração central desde o tempo colonial ditou este entendimento.
Você é da Praia?
A pergunta já me foi dirigida em São Vicente, Santo Antão e São Nicolau.
- Não! Sou de Santa Catarina!
- Ondê k’el ta f’ká? (Onde é que fica?)
- Na Santiago.
- Como! Não é na Praia?
- Não a minha Ilha tem nove concelhos. Se fizermos as contas tem nove São Vicente ou nove Brava lá dentro (concelhos). Uma pessoa não consegue conhecer todos os lugares em menos de uma semana. Já viu como é grande, a ilha! As gentes do Tarrafal raras vezes vêm à Praia.
- Nunca nos ensinaram isso.
- Mas está nos livros de escola!
- O professor não fala nestas coisas. E não se ouve ninguém explicar isso. Ficamos com aquilo que se diz aqui e acolá pelas pessoas que sabem melhor do que nós.
Aí esta. Se recordarem a frase plagiada pelo café margoso, hão chegar onde quero com isto dizer. Apesar disso tudo, eu acho que não há ou se existe é um esforço mínimo, para se sair dos nossos fundões, para alargarmos o conhecimento sobre as coisas da nossa terra, dando conta, afinal, da sua extensa realidade física e humana.
Tenho esperanças que as novas gerações portadoras de um maior sentido de descoberta serão capazes de agir no sentido de debelar alguns vazios que constituem verdadeiros défices de relações inter-ilhas, para se dar a tal “multiculturalidade na diversidade” que propõe o Djaroz onde as experiências de cada grupo humano positivam e fertilizam o saber que os professores e os pais não conseguem proporcionar aos seus alunos e filhos.
Hoje, os festivais, os Carnavais, os jogos escolares, os ateliers de formação, os desportos e outros intercâmbios, são arenas onde as ilhas podem-se reunir como forma de propiciar aos participantes uma verdadeira consolidação do conhecimento da nossa diversidade fisica e cultural.
A acontecer a verdadeira descentralização política, administrativa e económica, certas questões que derivam da percepção de que é a Praia a decidir ou a mandar em tudo ficarão remotas.
Assim sendo, Praia, é capital da república e Santiago ilha como as outras.

2 comentários:

Benvindo Chantre Neves disse...

Kaká, eu também assim dizia antes de vir pra Praia (já agora, ilha de Santiago). E dizia assim consciente de que Santiago é ca só Praia.

Mas, curioso é que quando cá cheguei, e estando nesta cidade, ouvia as pessoas dizer que iam à Praia. (caramba, então onde estou??!!, dizia eu intrigado).

Também, num dos meus primeiros dias por cá, fiquei confuso quando, em conversa com um colega, ele disse-me que ia apanhar o hiace para Santiago (!!???)

Ulalá! Interessante, não é?

Anónimo disse...

Olá caro amigo
É deveras interessante o que dizes. Na ASAntónio, N sta bá Praia, quer dizer Riba Praia, porque havia o tal Baxu Praia, periferia largada.
Sim Santa Cruz concelho tem como Freguesia Nho Santiago Maior, eis a razão.
No Nhága diz-se vou p'ra Somada (SANTA CATARINA).
As sedes administrativas são um pouco responosáveis por estas situações.
Obrigado pelos comentários.
Um abraço Kabarboza

RAPIZIUS

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