quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Jon d'Ebra 1 Projecto +

O caboverdiano tem de deixar de ser carrasco de si próprio.

Aborrece-me a atitude de cabeça sem ambição e de cabeça de pobre que enferma as ilhas e muitas vezes as iniciativas dos outros, dos sonhadores e dos ambiciosos.

Li no ASemana o empreendimento para Jon d'Ebra em S. Vicente, um bom empreendimento que vai gerar muita coisa de bom para a Ilha e Mindelo. Mas os carrascos, os matadores do futuro, começam já a comentar, questionando o acesso ao lugar, o turismo interno e outras coisas aberrantes, como os impedimentos de os naturais de lá irem gastar e se divertirem no máximo. Não deixa de ser uma atitude de coitado, aquele que dorme com a cabeça por lavar, com o seu trapo, com o sovaco embutido na charneca da sua mente doentia, que só a morte é o remédio santo.

Felismente, e felizmente, há uma juventude esclarecida que já sai para muzicar na rua junto dos ouvidos moucos, que querem trabalhar, que desejam ser gente, vivendo da sua renda na su...a ilha natal e ali progredir e construir o seu futuro.

Espero que seja esta mesma juventude a fazer frente aos carrascos das iniciativas dos outros, sobretudo iniciativas que trazem valor acrescentado à vida das ilhas.

Espero que o grande empreendimento se realize e depressa, para que a cidade que me viou nascer entre numa nova dinâmica de trabalho, de rendimento, de oferta e edificação de espaços que enobrecem S.Vicente, gratificam os empreendedores, e os cidadãos de boa fé deste país.

Espero ver aviões em Cesária Évora, passageiros, taxis, gente nova, novos hábitos, vendedores, guias, casas de lazer, casas de pasto, restaurantes, ateliers de artezanato, carnaval, São Silvestre, Dia de Sâo Vicente, a movimentar dinheiro, beneficiando, também, a minha querida ilha de Santo Antão que tem muito para oferecer aos visitantes.

A minha esperança é, também, antes de morrer, ir lá conviver com o belo, desfrutar o ambiente, comer, dançar e, porque não, tocar as minhas músicas apoiado pelos belos instrumentistas de Mindelo, sem olhar para quem tem, quem não tem, cor e raça.

Não sou carrasco, nunca fui e peço aos meus admiradores e amigos que não o sejam, nunca, de ninguém e de nada... Txâ VIDA vivê... e txâ contecê!....

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Bilhete de Desabafo


                                     Bilhete de desabafo

Após a net ter regressado à minha rede deixo este bilhete de desabafo para o FalamentoBarbosa.
Ontem foi o maior dia dez deste ano na grandeza das duas horas e trinta minutos de comunicação científica do irmão Barbosa, Júnior, perante um júri de elevada craveira investigatória.

O meu irmão, o quinto da coluna Barbosa, Alberto Barbosa, júnior defendeu a sua tese de Mestrado, alcançando 18valores na escala da classificação aprovada pelos Coordenadores da UNI-CV, para este nivel de examinação.

O Estado e a Segurança Pública foi objecto de pertinente dissertação do candidato a Mestre, Alberto Barbosa, comunicação presenciada por uma grande comitiva Barbosiana e de mais de uma dezena de oficiais superiores da Policia Nacional, particulares e alunos interessados na matéria.

O leigo atento saberia entrar neste discurso académico pelo facto de a comunicação ter sido feita de forma inteligível, clara e sem palha, onde o rebuscar de informações, de factos, de comparações com outras realidades, passadas e actuais, de experiencias vividas pelo próprio, conferiram ao texto uma visão histórica e social da criação e implantação da Polícia em Cabo Verde, caracterizando o seu percurso, o seu estado actual, mas também deixando pistas de como alicerçar, cito, o orador: uma policia cidadã, defensora das liberdades e garantias dos cidadãos, mas sem deixar de ser o garante da ordem e da tranquilidade públicas. Foi deveras uma experiencia nova prenhe de ensinamentos contidos na argumentação do candidato, e nos questionamentos do arguente, Dr. Semedo, cuja pertinência das suas análises tornaram ainda mais rica a defesa da tese em Mestrado numa área pouco conhecida e de escassa documentação de estudo produzida internamente.

Como irmão mais velho da coluna Barbosa não podia deixar de vincar o quanto me senti honrado e feliz por ver a farda da polícia ostentada pelo nosso falecido pai - Alberto Barbosa - durante anos, elevar-se a este patamar prestigiante em que o Superintendente Barbosa, Jurista e Mestre em matéria de Segurança Pública, caso pioneiro, tão pioneiro quanto foi a dissertação sobre o tema a que ele propôs desenvolver e apresentar perante a competência de um respeitoso e destacado júri. Vivi momentos de muita emoção.

Quero neste Bilhete de desabafo deixar um rijo abraço ao Mestre Barbosa, uma palavra de reconhecimento à família - esposa e filhos - que foram, sem dúvidas, um grande suporte moral e afectivo, reconhecimento extensivo aos manos que de perto e de longe estiveram conectados com este dia de rejúbilo.

Do mano velho
Carlos Barbosa



sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Rapízius

                 Um nacozinho do texto do conto NO OLHO DA RUA da coletânea inédita
                                                   Descantes de Nha Ribeira

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           Tudo por uma razão muito simples. É que a festa que marcava a natividade do menino mais ilustre da terra exigia esforço financeiro e entrega de ricos e de pobres. Era algo inevitável porque se cria piamente que a felicidade deste dia podia inspirar os vindouros, desde que imperasse a fé, mesmo sabendo que o pé-de-meia não aguentava a festança. Alguns, em gesto de solidariedade, colaboravam com os organismos civis na preparação das festinhas oficiosas para os meninos que nada tinham. Afinal era o bulício do Natal. A festa sedutora. Mas também do consumo descomedido. Não tendo a função de juntar e de divertir a criançada ao lado dos adultos, o Natal, na óptica consumista, seria a pândega mais popular do ano, precisamente, por alimentar apetites de toda a espécie e feitio.
            Mas ao lado de tudo isso havia aqueles meninos a quem nestes dias de roda-viva nada lhes cabia por razões que, se calhar, nada lhes dizia o Pai Natal, porque tornaram-se meros produtos do olho da rua, porque saíram de casa por não suportar tantas carências, por não entenderem as causas das agressões e não suportarem tantas mágoas e faltas, porque ficaram perdidos no meio de tantas desilusões, mas apelidados na mesma de flores do amanhã, embora errantes, desamparados, sem saberem para onde ir.
            Porque inquilinos da esquina, dos alpendres e das obras inacabadas, porque expostos ao relento pastoreando estrelas, porque físicos que não cresceram no tamanho mas sim na idade, porque ladrõezinhos fracassados que aprenderam a odiar, porque nunca desvendaram como amar alguém, porque infantes sem nome no chão da implacável luta pela sobrevivência, enfim, porque filhos da suspeição que aprenderam a abeirar-se dos festejos como gatos bravios, sondando afastados o engodo sem oportunidade de o saborear serenamente, porque satélites mortos do mundo consumista que sagra o advento de uma sociedade mais risonha. Será mesmo, que a magia do presépio e adornos em árvores nevadas, zera nos excluídos o enfado insistente dos dias que no olho rua revivem suas vidas.



segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Rapízius

                                      Cap V do conto Xamány


O sol ia bem baixo quando o rapazinho neto de Nho Torquato deixou ficar o recado à Nha Lucídia que tinha saído para tratar dos animais deixados fora do curral. Um recado daquela natureza voava que nem cheiro da calda na fornalha. Tudo foi muito rápido. Os interessados compareceram mais cedo do que se podia imaginar junto à casa onde havia o único fio que punha duas pessoas em contacto a milhas e milhas de distância. O telefone voltou a tocar. Era ele mesmo. Mãe e filho puseram-se a revirar o mundo das suas saudades, enquanto, pertinho, o outro interessado cismava de pescoço trincado para a frente como se os olhos alguma vez virassem ouvido. Sem perder tempo planeava o linguarejar para quando chegasse a sua vez. Mas a conversa de mãe para filho estava fincada de tal maneira que a noção tempo e distância se esvaíam inteiramente na imagem de vizinhança propiciada pela clareza das suas vozes.

Chegado a sua vez, os dois amiguinhos ferraram na cavaqueira com o de cá a gesticular que nem ramagem de charuteira exposta ao vento de Março. Tão, e tão pertinho se sentia do outro que a arrebatada troca da fala parecia sufocar o sistema pela onda de tanta vibração, circulando num e noutro sentido. De repente, a linha caiu. Muita coisa tinha ficado sem ir nem vir através dos araminhos de cobre que mantiveram os dois ligados por algum tempo. O jovem emigrante tinha completado nesse justo momento vinte e quatro horas longe da sua terra natal. O deste lado tinha deixado o local a correr à procura dos restantes amigos para lhes dar frescas novidades. Reuniram-se num instante e o moço começou a contar o que foi possível ouvir momentos antes, apesar de a linha ter-lhe pregado um bom calote. O pouco que conseguiu ouvir e dizer ficou transformado num relato que não havia meio de acabar, pondo ênfase no que mais o tinha motivado, os sítios bonitos e estranhos, o bairro da Barraca onde vivia muita gente da terra, nome que um dos presentes corrigiu para Buraca, o avião, a viagem etc. Os rapazes, influídos pelas novidades puseram-se a conversar apaixonados pelas imagens transmitidas, imaginando coisas e motivos que os atiçava ainda mais a acreditarem no sonho da emigração. A noite apanhou-lhes a conversar sobre o futuro das suas vidas.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Rapízius

                                    Rapíziu nº4

                Oração do Bom Jesus do Branda Ferro.

Santíssimo Corpo de Cristo em vossa chaga. Jesus Cristo do Branda Ferro vem brandar qualquer criatura que tem vontade di mi ofender. Virgem Nossa Senhora do Livramento eslivrai-mi e difendei-mi, ajudai-mi com qualquer meus indimigos, indimigos mansos, indimigos cordeiros, indimigos de caminho, indimigos di morada e indimigos particulares que vem sobre mim despejar suas malícias e malificiencias. Despende imediatamente escontra ela ou ele com o poder de Deus, Pai Todo-poderoso.

Filho, Esprito Santíssimo do altar mais do céu valei-mi, difendei-mi e ajudai-mi com qualquer outro indimigos, homens ou mulheres que vem armando escontra a mim suas fúria enraivecidos e suas bocas suja de coisas de malquerença. Eles ou elas serão ofendidos, eles mesmo com o poder do Bom Jesus do Branda Ferro. Anjo Grabiel, San Miguel Rafael, San Simon de Ajuda, ajudai-mi com qualquer de meus indimigos aqui e acolá, de frente e de trás e em todo o lado que estão arrumando escontra mim malícias de todos os feitio, qui mãos de demónio artefaz para condenação de almas de criaturas benqueridos.

Nosso Senhor Jesus Cristo de Branda Ferro brandai-mi os corações dos meus indimigos que estão sobre mim. San Simon da Ajuda ajudai-mi pelo amor que ajudou Nosso Senhor Jesus Cristo com a Santa Vela Cruz nas costa pela rua di amargura. Ajudai-mi a vencer estas ou estes indimigos vindo de casa estranho com o veneno tanto na comida, como na água, como na qualquer diferente qualidades de bebidas. Nossa Senhora de Tapar, tapai-mi com seu manto que encobriu os sem cobertura.

Nossa Senhora do Livramento difendei-mi nessa batalha por que o sangue do meu corpo não fosse derramado nem nas mãos dos meus ferozes indimigos nem nas suas intentações. Santa Mãi rogativa rogai-mi na minha vida até a hora da minha morte. Santo Santíssimo anjo da minha próxima guarda livrai-mi e difendei-mi de todas as armas de ferro como bagamorte, espingardas, punhais, revolve, facas, zagaias, pau, pedras, malfeitos, fetiçarias, demónios, pregãos de todas tentação e doutras coisas de perigo conhecido ou desconhecido pelos olhos da criatura.

Para todas as criaturas Servo de Deus, para todas as coisas e as pessoas de más tentações branda a hora de atingir-mi, di todos os males intencionados, e aqueles preparados na minha retaguarda sem eu saber, todos e sempre todos para ser auxiliados e remitidos para longe com o poder do Bom Jesus de Branda Ferro. Amem.»

                Recriado por: Kaka Barboza 

domingo, 18 de novembro de 2012

Rapízius

                         Rapíziu nº 3


Depôs de konsulta médika konsta k’un tava mute doente e un tive de ser internode na ospital. Dezenganode pa dotôr, nha família ka kria ke un sobesse ke n’tava ta bá morre. Tude nhas amigos já sabia. Menos mi. E tude gente ke un tava perguntá se un tava ta bá morre, ex tava dezê kma nãu, ke mi era forte e un tava kuaje ta bába pa kaza.

Depôs de tónte recebê vizita, un deskonfia ke algun koza tava mariode. Nton un pedix flor. Pa trazia mi flor. Flor brónk se era pa bá pa kaza, marel se fosse pa fka más un tenpe na ospital e burmedje se un tivesse en extado grave, e se un tava nax última pa ka trazeba nada. Lá kada un garanti kex tava asseita ideia e ex tava kunpri.

Dia seginte, un pessoa entra na kuarto el pô un bukê de flor burmedje murtxe e sen vida na nha lóde. Komo un tava ta durmi un ka tma fé. Nesse meio tenpo un kordâ e na nha bera xtava un bukê de flor trazide pa un pessoa ke ningen oia ta entra, nen ta saí e nen nome el ka txá na lugar ninhun de ospital. Ora de kontrolo tinha txegóde. Enfermeira de serviso tinha un kara xpantóde ta oiá pa min. E mi lá tude muk ke nha flor brasode. Un vra un pergunta-l se tude tava drete ma el. El baralha, el bá pa trame tenperatura, el faze un sorrizo moda reste de kmida de góte, friu-friu. Vra sin el grita moda se el tava diante dun morte. E mi tude lá xarutin. Oi kaskode na el. Un tinha morride diazá na munde.

18.11.12 - KBarboza

Rapízius

                      Rapíziu nº 2/12


Eram três horas da manhã quando cheguei à casa vindo de Fogo d’ África, lugar onde se faz música da terra todos os fins-de-semana com Nho Nani ao violino, um amigo, um músico, um entusiasta que muito aprecio. Empenha-se bem com o arco na mão. Ele é mesmo bom.

Sim, como sempre dirigi-me ao frigorífico para tirar dali a garrafa de água fresca, pôr na minha caneca inox, ir para a janela da sala, tomar uns goles, parar e olhar para cima, para o céu a conferir a posição das estrelas. Praia tem um mau céu estrelado por causa do reflexo das luzes da cidade. O melhor céu estrelado que já vi na minha vida foi em Assomada, em Achada Riba. Recentemente, foi na ilha Brava, em Senhora do Monte. Fascina-me o céu estrelado. Olho a pensar nas estrelas que não se cansam de cavar o buraco onde moram deixando ficar de fora o rabinho de luz a abanar, semelhando a artimanha das feiticeiras.

De repente uma sombra com um ar enigmático pôs-se a meu lado com suavidade e começou a murmurar aos meus ouvidos: «Olá, Kapa!» Voltei a cara para o lado. Repetiu: «Olá Kapa»! O bafo era de quem fumava e bebia instantes atrás. À mistura o odor de um perfume caro, parecido com Madame Dior, não tenho certeza. Quem és tu? – Perguntei. De novo ela «Vim porque estou apaixonada por ti Kapa». Porra, quem és tu! O que queres de mim? Ela: «Já não tenho idade para estas coisas, mas senti vertiginosamente atraída por ti e vais dar-me o prazer de te tocar e de te beijar. Ficas bem recompensado. Não tenhas medo de mim».

Um calafrio tomou-me conta da espinha a querer tirar-me forças. Ao sentir o aproximar do seu rosto ao meu, defendi com a mão que segurava a caneca de água, acertando na parede ao lado entornando-se o resto da água no chão. Afastei-me da janela por uns momentos. Voltei a ficar no mesmo lugar e na mesma posição, desta vez a olhar para baixo e para o lado para ver se identificava algo. Resultado, nada. Permaneci de pé junto à janela e percebi que do chão vinha um cheiro a álcool, a whisky. Para comprovar, trouxe a caixa de fósforo, acendi, aproximei o lume do derrame, e-e-e-e pefffff. Um fogo azulado cheirando a nada. De repente houve um vuuuoooop a secar o chão. Aconteceu como se um vácuo tivesse sugado qualquer coisa dali. Até o dia de hoje fiquei por entender o que na realidade terá passado comigo nessa madrugada.

Praia, 17.11.12 - KBarboza

sábado, 17 de novembro de 2012

Rapízius

                               Rapíziu nº 01/12

Ka sabedu ma bó é mi e mi é bó sen tra nen poi. Otus podi pensa ma nu sta longi kunpanheru, ma distansia ki parse ta separanu, ma é simé. Separason pa nós ka tem, ka ta iziste.

Alebu li má la tanbé. Kel ki passa é kuzas ki passa. É sirkunstânsia di vida, pur isso ten paxenxa...kel ki sta, dja sta djâ. Fadiga pakê! Ka sta faxi sta bibu si min morre dja ten más di dez anu anu, aliás, nka debe naseba, pakê! Pa morre dipôs e fika bibu ta da pa li, ta da pa la! É duru pa mi sabe izatamente modi ki bu sta passa e sta ser tratadu na kel terra lâ, en ki bu sta kondenadu a fika ti nka sabe kantu tenpu más.

Di tudu modi, n sta bibu na morti kin morre. Má senpre li, firmi na nha konviksãu di kunpri nha dever di mortu pa ku bibus. N ta xiti txeu falta di sta mortu e nta gostaba di ka staba bibu pan odja kel ki nka debe odja e xinti kel ki nka debe xinti. N ta passa vida tormentadu. Na meiu di kuzas ki ta pon respira fundu ku gana fitxa coragi pan dâ un pan, má nta pára-a-a-a-a ta pensa. Manbá sin dâ bá ku amigus ku tudu, pur issu nta branda nervu, tomandu fresku na rol di mar na horas di sussegu total.

Ka bu txoman mazokista ou sádiku, mas nka ta rizisti tentasãu de kontau o ki passa ku mi à dias. N duense grávi nbá dotor, di la nba hospital pa internamentu. Kantu ntxiga, n da nomi, n paga porta, tudu, es djobe na konputador nha nomi ka staba lâ. Npidi pa djobe dretu. Djobedu, djobedu, atxadu. Fladu man morre dja tinha dizoitu anu. Djobedu, atxadu bilheti di óbito ki ta da man morreba di asidenti di karru, pur akazu n tinha ku mi tudu dokumentu, BI, karta konduson, Sósio di Benfika, NIFI, karton 24 di três banku, karton di vizita, inkuindu bilheti di óbitu. Nton nka fika internadu na kuartu di duentis. Na kazinha di mortu undi mortu ta podu pa pode bibu dipos di morre.

Ê… si! Nfika la ta spera ora di morre más un bes.

Kaka Barboza

Praia, 17.11.12

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Floris di Ibyago



        DOR DI DUEDU


Mi nka ben mundu pan pol di nha getu
Má pa n sta na getu di kel ki é dretu
Sem dor di duedu e sen duedu di dor
N ka ben pa ser dor di lansa kupidu.
Bo era sol di nha sonho
Xintadu na ramu nha paxenxa
Ta buska gulória na segredu dun krensa
Dun krensa kredu na dor di forti duedu.

Si sol ka ta manxeba na kutelu
Ami era pinton mangradu ku dia kontadu
Mi era kruz na Kruz di Piku krusifikadu
Mi era azágua di lugar kondenadu.
Ayan! Otu, má alen li!
Demu! Si duedu ta due
Kre ki ka kredu
É mas ki duedu na dor di forti duedu
Ka ta da pa pensa, ka ta da pa ntendedu.


Kaka Barboza
Praia, 16.11.1012

vIvA O viva

Dei tantos vivas até o dia em que deixei o parlamento, vivas dados com emoção, pensando nesses momentos descobri que os melhores vivas foram: VIVA A QUARTA CLASSE, VIVA KEL BOLO - VIVA KEL VINHO e VIVA O ANIVERSARIANTE.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Solidariedade



Cartas do Deserto

Coimbra, 07 de Novembro de 2012

Hoje a manhã estava fresca. Tinha chovido durante a noite. Tal como me acontece com frequência, tinha saído de casa com atraso. As minhas colegas Ana e Céu aguardavam-me. Mergulhado nos pensamentos, lá fui, com os passos guiados por “piloto automático”. Já na Avenida Fernão de Magalhães dei comigo a lacrimejar. Não sei se do fresco que me açoitava os olhos, se da emoção de estar a viver um momento novo na minha vida. Talvez fosse um misto de ambas as asperezas. Ou até um cocktail com porções não medidas de amargura e raiva. Na Avenida Fernão de Magalhães localizara-se até 31 de Maio passado a sede da Delegação da Lusa na Região Centro, onde partilhámos tantas horas, tantos dias, de tantos anos.
O encerramento e o degredo do trabalho em casa, desde então, prenunciavam já este desfecho. À entrada do Centro de Emprego de Coimbra ambas me esperavam, de pastas encostadas à anca, e a Ana já com a minha “senha de vez” na mão. Depois de transpor a parta de vidro, uma sala de espera repleta, com todos os bancos ocupados, e algumas pessoas em pé. Ninguém ria ou sorria. Raramente trocavam palavras.
De quando em vez fixavam o marcador luminoso que marcava o ritmo do atendimento. Quase todos tinham uma pasta de plástico na mão, ou no colo, contendo folhas de papel, e na mão direita agarravam o ticket de vez. Alguns jovens. Muitos dos 40 ou 50 anos. Uma fotografia do Portugal de hoje, pensei. Uns, recém desempregados, como eu e as minhas duas colegas, estavam lá para entregar os documentos de oficialização do despedimento, a tentar obter o subsídio de desemprego. Outros iam mostrar o testemunho das quatro tentativas mensais de procura de emprego a que estão obrigados. Será este o nosso fadário nos próximos meses, ou até que se esgote o direito ao fundo de desemprego.
O 31 de Outubro de 2012 foi-nos imposto aos três – a mim, à Maria do Céu e à Ana – como o último dia na Lusa. No meu caso ao fim de 24 anos e meio. O encerramento da Delegação em Coimbra, em finais de Maio último, e os desenvolvimentos subsequentes apontavam para o arrasar do grupo de jornalistas em Coimbra. Agora parece que o tufão arrasará muitos empregados da Lusa em todo o país, mas em particular os jornalistas que se encontram fora da bicefalia Lisboa-Porto.
Na manhã do dia 31 manifestei a adesão a um programa de saídas voluntárias, que melhor se poderia designar de saídas involuntárias. Na tarde desse dia soube que esse era o último da minha carreira na Lusa. Curiosamente estava a acompanhar uma conferência da UGT "Crise Económica e Social" quando o telemóvel vibrou. Saí da sala para o atender, e para minha perplexidade era um telefonema do responsável dos serviços técnicos da Lusa.
Ordenava-me a devolução com urgência dos equipamentos que tinha para uso no trabalho, pois aderira ao programa das ditas saídas voluntárias. Foi uma comunicação, por via indirecta, de um despedimento. Com estoicismo reentrei na sala para acompanhar o resto da conferência. Às 21:36, marcava o mostrador do telemóvel, enviei a última notícia que redigi para a Lusa. A última de muitos milhares de notícias que escrevi, primeiro na máquina de escrever, depois no telex, e há vários anos num computador.
Foi um momento triste, a todos os níveis. Encerrar desse modo uma carreira na Lusa que começara na última semana de Abril de 1988. Talvez tenha encerrado aí, também, a carreira de jornalista, dada a situação que vive o sector da imprensa.
Depois de limpo dos testemunhos do labor de vários anos, na segunda-feira passada coloquei numa caixa o computador, o telemóvel e a placa 3G. Tudo dentro da mochila onde os transportara para tantos trabalhos.
Como ataúde de tantos anos de trabalho, de tantas paixões e ansiedades vividas na procura da notícia, a caixa selada lá seguiu por correio registado para a sede da Lusa, em Lisboa.
                                       (Um texto enviado por Francisco Fontes - meu grande amigo)



quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Pé de Prosa

A RUA ONDE TUDO
PODIA ACONTECER

Havia uma rua, de seu nome verdadeiro, Rua Capitão de Infantaria Eng.º António Monserrate Lencastre de Sousa Pinto d’Almeida, cuja etiqueta era mais longa do que a ruazinha do bairro novo mandado construir pelo Governador por ocasião dos quinhentos anos do achamento da Ilha. Eram estas as origens da rua que o povo, ignorando o laureado e seus feitos heróicos, cascou o nome Rua Pandonga.
Nho Pango marido de Nha Pandonga era jardineiro do palácio do governador. Feita a distribuição das casas coube ao assalariado a moradia que ficava á esquina onde a placa foi colocada. As laterais de duas janelinhas davam para um descampado, onde mais casas vinham sendo construídas, restando um largosinho onde os meninos jogavam à bola. Com a reforma, o jardineiro viu o seu salário reduzir-se bastante e, para ajudar a casa, sua mulher arrumou um tabuleiro de venda e ao lado uma tigela com pastéis de milho recheiado.
Com o tempo, não podendo ela continuar mais no ofício por causa da idade avançada, herdou-lhe a filha, Donguinha Preta. Inovando, a jovem vendedeira montou um caixote feito mesa, onde punha o negócio, ladeado por quatro moxo (banquinhos de madeira), para os clientes. De pastéis, passou a fritar também miudezas de porco, passando a vender mais, sabido que bebida puxava pelo bafíu e vice-versa. A moça tinha um espírito tolerante, coisa que agradava muito os que iam para ali desenfadar às tardinhas.
Às dezoito horas abria-se a esquina e fechava-se não havendo clientela. Era assim todos os dias. Ali, todos tinham uma cena para contar. Era um autêntico palco de verdade popular, verdades vividas. Os que se estonteavam encostavam-se à parede a falar corrido. Os despertos davam-se aos copos. Dizia-se de um fulano que seguia em direcção á casa, após ter deixado o lugar, a meio caminho, começou a bracejar como se estivesse em puxa-puxa com algo invisível. Outro, findo o último pingo, começou a espernear e a espumar pela boca como se tivesse ingerido detergente. Outro ainda, apenas o cheiro do copo, fê-lo cair seco russo, nem água por cima o acordou da calema que o apanhou. Não obstante o que vinha acontecendo, mais, e mais clientes visitavam a esquina. Ali a bebida era bem servida e a bafa baratinha. Nho Lixo, cliente assíduo, quando puxado nela, falava sempre duma coisa redonda cheia de luzes que aparecia no largo com gente em fato-macaco laranja a inspeccionar o local. Até o velho Nho Pango, pai da rapariga, contava ter visto homens fardados de branco, armados, seguindo no meio do breu, desaparecendo na rua detrás.
Enfim, muitas estórias davam conta de cenas incríveis que o lugar inspirava e onde tudo podia calhar, contudo, desconheciam o paradeiro dos cães que nas redondezas latiam noite dentro até de madrugada.
A vendedeira que sabia de tudo, diariamente, mal o sol se punha, arrumava a esquina para acolher a clientela.                        (Conto curto do Livro - Descantes d'nha Ribeira - não publicado) 



quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Olho k não nos Vê

          NASA captura incrível imagem
                   do `Olho de Deus`


A tonalidade violeta foi registrada pelo telescópio Galaxy Evolution Explorer, também chamado de Galex, no Instituto de Tecnologia de Passadena, na Califórnia Nebulosa Helix: Considerada uma das mais próximas do planeta Terra, a Helix encontra-se a 650 anos-luz de distância, na constelação de Aquário.

São Paulo - Conhecida como “Olho de Deus”, a nebulosa Helix teve essa incrível imagem capturada pela Nasa. A tonalidade violeta foi registada pelo telescópio Galaxy Evolution Explorer, também chamado de Galex, no Instituto de Tecnologia de Passadena, na Califórnia (Estados Unidos).

As nebulosas são um dos objetos mais impressionantes no céu noturno. Elas são restos de estrelas e nuvens interestelares de poeira, moléculas, hidrogénio, hélio e outros gases ionizados, onde nascem novas estrelas.

A nebulosa foi descoberta no século 18 e é identificada por NGC 7293. Considerada uma das nebulosas mais próximas do planeta Terra, a Helix encontra-se a 650 anos-luz de distância, na constelação de Aquário.

A Helix continua brilhando por conta da intensa radiação ultravioleta emitida pela estrela anã branca, no centro da nebulosa. A radiação lançada aquece as camadas de gás expelido ao redor, formando esse incrível efeito.  (Tomada na net - Noticias da NASA)


Nos EstadosUnidos

                                                 Concursos estúpidos para gente estúpida

Edward Archbold, 32 anos, caiu repentinamente no chão depois de ingerir uma grande quantidade de insectos. A competição teve lugar na passada sexta-feira, no Sul da Florida, e premiava o concorrente que conseguisse ingerir mais insectos.Archbold foi o vencedor e no final levantou bem alto o prémio que tinha acabado de conquistar ao vencer a prova, uma pitão. Porém, pouco depois, Edward Archbold caiu inanimado no chão.
Segundo conta o Daily News, o homem foi transportado rapidamente para o hospital, tendo vindo a falecer pouco depois.
Apesar de os médicos ainda estarem a aguardar a autópsia, este não encontram explicação plausível que relacione a ingestão dos insectos com a morte do jovem. «A menos que os bichos estejam contaminados, não se sabe como ocorreu», disse um professor da Universidade da Califórnia. «Existem pessoas que são alérgicas a baratas, no entanto, estes insectos não são portadores de toxinas».
                                                    ( Noticiado no jornal português SOL)





sexta-feira, 5 de outubro de 2012

DeSoRdeM em ORdeM

                          DESorganização


                          Um texto de Priscila Stucky

Após ler esta crônica um tanto quanto científica, você saberá como uma pessoa desorganizada tem sucesso na vida.

O homem acorda para ir trabalhar pontualmente às sete e meia. Vai para o banheiro. Liga o chuveiro, para ouvir o barulhinho. Faz xixi, fecha a tampa do vaso sanitário. Entra no banho. Lava o cabelo com champô. Passa sabonete no corpo. Sai do banho. Seca-se com toalhas limpas. Escova os dentes. Faz a barba. Passa perfume. Sai do banheiro. Pega a roupa previamente mentalizada. Veste-se. Vai para a cozinha, aperta o botão da cafeteira. Pendura a toalha molhada na lavandaria. Toma café com torradas, escova os dentes. Pega a sua pasta, o celular e a chave do carro que está no porta-chaves da cozinha, vai para o trabalho, chega pontualmente à reunião.

Vejamos esta situação corriqueira na vida de um feliz desorganizado. Ele acorda atrasado, não porque não colocou o relógio para despertar. Ele fez isso. Mas esqueceu o relógio na cozinha, tendo despertado os vizinhos menos a si próprio. Pessoas desorganizadas têm o sono pesado. Acorda atrasado, vai para o banheiro, liga a água que não esquenta de jeito nenhum. A luz foi cortada às oito da manhã porque ele esqueceu de pagar a conta. Toma um banho frio que é óptimo para a pele. Pessoas desorganizadas têm óptima pele. Como não tinha sabonete, ele limpa o corpo com champô. Conclui-se que uma pessoa desorganizada inventou o sabonete líquido. Procura uma toalha para se enxugar, estão penduradas na corda. Dá uma corridinha rápida até o varal e pega uma. A vizinha de noventa anos o vê pelado e passa o dia sorrindo. Pessoas desorganizadas alegram os idosos. Ele vai procurar uma roupa, mas todas estão sujas, ou por passar. Encontra um terno, e coloca com uma camiseta branca, passando só a parte da frente. Fica muito sexy. Pessoas desorganizadas são sexy. Ele sai sem tomar café preto, já que a cafeteira funciona com electricidade. O que faz muito bem para a saúde e não deixa os dentes amarelados. Entra no carro que sempre está com a chave na ignição, desta forma nenhum ladrão rouba pensando ser uma pegadinha. Pessoas desorganizadas não têm seus carros roubados.

Mas ele precisa voltar para o apartamento, pois esqueceu os papéis para a reunião. Obviamente os papéis fugiram de onde estavam. Ele começa a caça, e encontra uma carta de amor da primeira namorada. Pessoas desorganizadas têm agradáveis surpresas. Ele não encontra os papéis para a reunião, mas vai assim mesmo. Todos estão esperando, estão atrasados vinte minutos. Ele pede desculpas, e vai falando que todos os conceitos para aquele projecto precisam ser revistos. Abre a pasta, pega um calhamaço de folhas aleatoriamente e as rasga na frente do seu chefe. Diz que trabalhou naquilo durante toda a semana, mas é humilde o suficiente para admitir que não fez um bom trabalho. Que pode fazer muito melhor. O chefe fica impressionado com o funcionário impetuoso, e pede para que ele diga o que pretende mudar no projecto. Como todo desorganizado é criativo ele faz uma explanação muito melhor do que letrinhas no papel e é promovido. Enquanto o desorganizado fala, o organizado anota toda a pauta para que o chefe tenha tudo escritinho. O desorganizado tem agora uma secretária que fará os pagamentos. Sua pele vai piorar bastante.•

Nomeia o organizado seu assessor. Como primeira tarefa, o organizado retira os papéis rasgados da mesa, lê e comprova que era o projecto antigo.

Conclui que o desorganizado é um génio. Pessoas desorganizadas são geniais, porque só sendo genial para conseguir sobreviver a tanta desorganização.





quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Da Gaveta de Registos

 Vou-vos falar um pouco de uma classe de profissionais muito relevante e ao mesmo tempo muito controversa, os estivadores do porto da Praia e um pouco do seu mundo de relações.

O que toda gente sabe é que em termos físicos o porto da Praia melhorou bastante e melhor ainda vai ficar com o fim das obras de expansão em curso e que em termos organizativos o complexo portuário vai precisar de novas medidas e adequação dos serviços aos novos espaços emergentes e qualificar os recursos humanos a vários níveis. É o visível e o sabível.

Mas, vamos ao invisível e pouco sabível.
Se à frente dos nossos olhos os estivadores parecem uns desgraçados, um grupo profissional sacrificado no altar da exploração laboral, por detrás disso tudo as coisas são bem outras. Registam-se factos inacreditáveis. Morre muito dinheiro em suas mãos. Recebem bom dinheiro, mas gastam-no muito, muito mesmo num só dia em paródias colectivas suportadas por uma única pessoa. Quinze dias depois, ela, a sua casa, os meninos entram em cruel padecimento. Esta é uma verdade nua e crua. Trabalho duro, sim, mas deixa resultado, mesmo bom resultado. Aquele grupo ciente do rendimento do seu trabalho possui casa própria, andares com quartos arrendados, transporte de mercadorias, tratam bem da família, têm filhos no liceu e na universidade, saldam os seus compromissos bancários e têm uma vida decente.
Porém, aqueles, a maioria, entregues ao desleixo acabam vítima do álcool ou da droga e quando assim acontece entram de conta própria na indecência da vida, indo a ponto de alugar a sua vez de trabalho a outrem, a troco de uma quantia acordada, havendo, por vezes, crispamento na hora de pagar ou receber o valor.

Vai um pouco do guardado na minha gaveta de registos:

i) as mulheres negociantes (as sabidas) escolhem juntar-se ou casar com os estivadores idosos ou reformados para conseguirem arrumar haveres domésticos de valor e casa para si, antevendo o fim da vida do marido minado pela vida que levou;

ii) há estivadores sabidos que aceitam antecipar dinheiro a colegas viciados em droga e álcool, cedendo dez para terem de volta quinze contos ou mais conforme as circunstâncias, funcionando como um banco. Fiança documentos e cartão 24;

iii) as mulheres fornecedoras de comida e de bebida tomam de fiança o cartão 24 do seu devedor e sim que o salário do mês é depositado na conta, ambos vão levantar o valor em dívida para não haver fuga;

iv) derivado do sustento de duas ou mais casas alguns acabam ou acabaram sós por maus tratos às companheiras, filhos do casal ou unicamente da companheira;

Enfim, há um submundo onde as relações se processam segundo a lei do “sabido fla dôdu é pa ingana” onde não existe dor nem piedade, onde a tolerancia é zero e onde os compromissos assumidos são pagos no prazo certinho sob pena do ajuste de contas. Quem assiste de fora condói por desconhecer o modus vivendi, outrossim, por não pertencer ao sistema, pelo que, politicamente correcto, tê-los como elo fraco da sociedade (pobres e desprotegidos) é legítimo.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Outubro Poético

O desafio
É covardia de quem o dita
e valentia de quem o aceita.
Um percorre o fio do medo
o outro doma-o

O desafio
à vontade dita não pertence.
À de rija fibra unicamente.
Esta não escolhe o momento
o dia a noite o sol e o vento

O desafio
É brio desabrido num fio
                          (de faca)

                                                                       Poema do livro ChãoTerra Maiamo já publicado.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Letras na Gaveta

No dia seguinte, logo cedo, chegado para trabalhar na estiva, encontrou o maior reboliço do mundo junto ao portão de entrada no porto. No meio da vozearia ali instalada uma mulher clamava ruidosamente: - Ele tinha apenas catorze anos. Ele era uma criança. Assassinos! Autoridade?! Onde está a autoridade?! Chamem a polícia! Desesperada gritava uma outra lá do seu tabuleiro de venda. Coitado do menino! Assassinos! Tiraram vida a um anjo de Deus por causa de uma coisa de nada. A notícia veiculada era que o menino tinha arrebatado o maço de dinheiro das mãos do auxiliar de despachante oficial à entrada da Alfândega e que no grupo que o perseguiu, alguém atirou uma pedrada acertando-lhe fatalmente na cabeça. Ninguém sabia dizer de que mão tinha saído o naco de basalto mortal. Veio a polícia, mas ninguém foi responsabilizado. Estava tudo muito confuso. Dali, o menino foi levado para o hospital. Txitxarrinho era seu nome de rua. O nome próprio ignorava-se. Vivia na vizinhança do porto. De que localidade também ninguém sabia. Após o exame e confirmação médica o cadáver foi mandado colocar na casinha do morto. Passou ali uma manhã inteira sem que ninguém reclamasse o corpo. No mesmo dia, ao fim da tarde, o caixãozinho municipal, azul desgastado, seguia numa velha ambulância para o cemitério da cidade certificados pelo motorista e por um funcionário ligado à casinha mortuária do hospital. No cemitério dois serviçais camarários estavam prontos a mandá-lo para o fundo da abertura num chão ressecado onde nem planta da babosa parecia resistir a tamanha aspereza. Tudo foi rápido. Morte rápida e mais rápido ainda o enterro. Se alguém chorou a perda dessa vidinha em pleno crescimento a cidade não o soube. Ninguém mesmo se viu embaraçado ou impedido de continuar nos seus afazeres ou mesmo na pândega. Também esta tragédia não ia mudar a vida de ninguém, de nenhum bairro e nem da cidade. Os meninos largados no olho da rua iam continuar na mesma. A crescerem e a viverem na rua. Nada ia mudar porque o menino desfeiteado é filho de ninguém. Nem da lei e nem de Deus. Com o morrido aconteceu como lume num pau de fósforo húmido. Faiscou e expirou logo. Melhor seria se o mar o engolisse e levasse o seu corpo para a fundeza das suas águas, guardá-lo, sem campa, sem plantas, nem flores, do que tomado pela terra numa cova ignorada.


                                  Parte do conto NO OLHO DA RUA do livro - Descantes d'Nha Ribeira - não publicado.




O Salto

SALTO é provocar rompimentos sensatos saneadores do tradicional desnecessário. 
SALTO é formatar a cultura do sucesso faltante no pensar, no conceber e no agir do indivíduo.
SALTO é criar a ponte possibilitadora do fluxo de relações e de proveitos em tempo recorde.
SALTO é saltar de modo a não ofender o quadrado (sen ratxa fundidju, dito, em caboverdiano.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Pa Dia di Múzika


Finata 19
Stadu ton di seka y na rafugu di rizistensia
Soris kaídu azágua speradu sonhu perdedu
Na kontra ton anu sen konta nos insistensia.
Fomiadu forsadu kaminhu sul fidjus moredu
N'alma lamentadu di tera-mai nos izistensia
Gana-l sai y gana-l fika na intentu mordedu
Ki fundianu fé na petu y ki fundinu speransa
Na no'sprítu kriolu na bandera nos kudansa.



Finata 20
Txuba é spiga-flor na ligria-l nos speransa
Bib'alma na sonbra-l konfortu sen si mágua.
É son d'inxada na txon podu ki ka ta kansa.
Odju seku d'Otubru gran é kudar d'azágua.
Si abertu séu di txuba é simenti na bonansa
Así perdedu é plantas na dor di ka ten água
Jeografia di tenpu é odju txobedu na fodjada
Si, Sael sopradu é kastigu-l tenpu na morada.
          (Do Livro Konfison na Finata)

Txuba-Txôbe


Nas contas da azágua outubro é a pedra mesta.

domingo, 30 de setembro de 2012

Curiosidades 2

Eram 08H10 duma quarta feira e eu sentado no banco da Rua das Vendedeiras
nome que prefiro dar a esta antiga rua de Riba Praia.
À minha frente ouvia-se a vozearia das mulheres vendedeiras.
O produto almejado era aquela pecinha de roupa que as mulheres usam por baixo que,
por causa da moda, nada tapa e pouco esconde a preço de 200$ e 500$ duzia 
(16$66 e 41$66 unidade, respectivamente)
e vendido a 50$00 e a 100$00 unidade.
Imaginem só.

Curiosidades


Acordei com música da chuva e o cantar da trovoada na incandescencia dos relampagos.
Eram 04h43. Posto à janela consegui apanhar o clarão a poente madrugando enquanto murcho o Cometa adormecia sob a chuvada nos parasois, neste caso nos parachuvas brancos.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Finado's Dream



Ó Djinho, my rich brother.
I read the breath of angels that night descended upon you in that hour, you know. But this piece of land that Armenio poet says is just one site, a small site, I add, a stubborn people, is not this president or that will come from the right side of the desk a list of direct contacts of the bossy world.
Cavaco Silva, accepted. But White House! White House, my brother, has other horizons than the sunset in Djarfofogo.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Água, Chuva e Azágua

 No nosso país a àgua não é considerada património, mas sim um bem de consumo ou uma necessidade pontual. A seca, sim. Ela é mais património justamente por nos ter moldado o ser e o estar na vida. A seca reside. A àgua passa. Por ser passageira, embora sendo um bem essencial, ela não é tida por património a ser cuidado a todo o custo e a todo o tempo.

A chuva é um acontecimento periódico de celebração efémera sendo o seu aproveitamento calendarizado em função da sementeira do sequeiro. Hoje, com a construção dos diques e barragens, a percepção e a noção do que é guardar e preservar a água enquanto princípio de vida, poderá vir a se alterar no futuro. Contudo nas cidades as grandes superfícies cobertas não foram pensadas para drenar água para as cisternas. Os aeroportos por exemplo não dispôem de cisternas. Este complemento desapareceu do pensar dos arquitectos, engenheiros e proprietários de imóveis urbanos. Devia ser obrigatório mas não é porque prefere-se o mais caro - a dessalinização e a perfuração.
O grande desastre ilheu pode acontecer com seca ou inundação totais.

 Se por um lado a chuva trás alegria e ajuda a relaxar pela importancia económica que tem, por outro lado transtorna pelas perturbações que trás com ela, sobretudo quando chove bem chovido. Por a chuva não ser um padrão regular ela exerce um efeito dramático sobre a nossa cultura que por sua vez dita o comportamento dos indivíduos.
Uma estrada obstruida, um aqueduto destruido ou simples acumular de àgua frente ao gimno ou frente ao palácio do governo a comunicação social anuncia inundações como se as urbes entrassem em pânico, mesmo sendo curta a presença dessas àguas. Mal chova os funcionários e os empregados não comparecem nos seus locais de trabalho, desculpando-se que ela não os deixou sair de casa. Nas urbes quase que tudo pára quando chove.

Enquanto os camponeses trabalham e deslocam-se debaixo da chuva e em chão lamacento, os citadinos temem molhar-se e pisar a escassa lama alimentada pela chuva.

O quadrilátero inevitável que se chama AZÁGUA em que o homem, a terra, a semente e a chuva FORMAM os seus lados perfeitos é a base fundamental da nossa existência neste pedaço de chão torrado que queremos dar outra vida que não a da sobrevivencia, apenas.
Não se pode amar do que não se cuida ou não se cuida do que não se ama de verdade. 
Afinal, o que é que amamos em Cabo Verde?

RAPIZIUS

                                                                                                         MINHAS AMIZADES COM DIAHO ...