domingo, 17 de fevereiro de 2008

Bilhete Inesperado



O meu estado gripal não me tirou da menina do olho o artigo de Antoní Tápies postado no Ala Marginal do amigo xatiadu si Abrão Vicente. Porque é um Domingo inguissadu si, não sendo hora de escrita porque os grilos ressonam, entre olhos encharcados e mãos segurando a toalha, esta nota arrancada do pecado capital, relendo João Branco do café forte sem açúcar. É assim:
Em Santa Catarina os donos das terras, os morgados, marcavam o dia certo para o pagamento das rendas de propriedade. A não observância penalizava seriamente o faltoso. O diabo é que para dentro da cerca (muro de vedação) onde se situava o telhal (casa do proprietário) só entrava gente de casaco e boné e como nem todos possuíam a vestimenta completa, um cedia o outro e, assim, todos se mostravam à maneira.
Havia um lavrador chamado Ntóni di Dunda, que semeava cinco litros de sementeira, e tinha uma renda anual de 420$00 para o uso da terra। Tirar lenha, colher o fruto da sementeira ou da horta, o tributo era outro। Findo o prazo dado, ele apareceu para entregar o valor e sem casaco nenhum। De óculos levantados, o morgado pô-lo fora sem mais quê. Não é que surgiu o inesperado. O rendeiro olhou para ele como um djaki (boi) novo, tirou da algibeira 300$00 bateu rijo em cima da mesinha, dizendo-lhe: 120$00 estão aí no quintal à sua espera. Não serviram de nada os gritos do patrão a chamar pelo zelador da propriedade que segurava uma corda atada ao chifre duma tchibarra magrinha por falta de pasto. Daí em diante Ntóni di Dunda passou a ser conhecido por Ntóni Soldadu, (pretu ki dizafia branku dentu si kaza) o preto que desafiou o branco em sua própria casa. Kb

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RAPIZIUS

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