A encimar este registo trago para vossa admiração os famosos grilos negros, fiéis pastores de estrelas, fixas e cadentes, mas também doutros astros errantes para além da Blogosfera, porque nunca se sabe quando é que este apaixonado por grilos pára subitamente de discursar. Sinceramente, vos digo, que as palavras são para mim como pincéis pintam ou borram. Os ursos fazem discursos para as alvas. Do caboverdiano, talvez, seja para os calos das suas pedras. Eis-me a tentar quebrar umas, colocando umas pertinências, com ou sem melindres.
Nós nos orgulhamos de facto de alguma coisa?
Quem luta para sobreviver orgulha-se de quê, de que coisa, de ser o quê?
Por que ideais e ao lado de quem ele luta e que política lhe convém?
Pátria é o conjunto das ilhas ou cada fundão é uma pátria?
Será que existe um patriotismo crioulo “xatiadu si” nalgum sítio dentro de cada um, e que só ele sabe utilizar?
Tem sentido pátrio a língua materna – o caboverdiano – enquanto língua da nação global?
Ao levantar estas questões, estou simplesmente a querer indagar sobre o que é que vai na alma e na cabeça dos académicos e não académicos, políticos e não políticos, trabalhadores, operários e camponeses, abastados e pobres, artistas e não artistas, para me aquilatar em que medida somos ou não uma nação com uma cultura bem especial. A língua caboverdiana é, sem dúvidas nenhumas, a maior criação do povo das ilhas e onde residimos perpetuamente. Nela um conjunto de palavras ilustram o que ele pensa de si próprio, como vive e convive, como se dá nas suas relações com outrem e com a natureza.
Temos «difruxân» uma acepção crioula que significa um mal instantâneo no interior de um indivíduo, indispondo-o, desequilibrando o seu estado emocional, pondo-o sem capacidade de agir com serenidade. De frustrações falam os especialistas. Mas «difruxân» enquanto desarranjo esquisito capaz de levar uma pessoa a produzir certas atitudes, por exemplo, esbanjar o que é claramente seu e proteger o que é estranho, isso, é, por assim dizer, uma doença crioula, sua, exclusivamente. Pode parecer ridículo mas é o pão de cada dia. Fala-se bem e mais de tudo dos outros até dos mais reles, do que do bom nosso que nos custa obter. Entender isso não deve ser tarefa fácil, como pode parecer.
No entanto, vivemos grande parte do nosso tempo a alimentar o vício do lamento, uma espécie de esquivo para se furtar à verdade. Se repararem, até lamenta-se o amor de não amarmos o amor que devíamos dar sem equívocos. O Zé Lovi, relendo o Djinho Barbosa, com os seus sons, passa a vida a lamentar amadamente o desamor, pelo seu amor desatendido, acho, que isso é muito claro.
Mas temos «Koitadu» palavra que detesto pela frequência e como ela é utilizada. A koitadeza leva o crioulo a imaginar não soluções, mas sim, complicações, autênticos enredos que nos deixam todos boquiabertos. Quem não ouviu a vendedeira com móvel e peças de ouro a se afirmar coitada, porque a taxa passou de 100 a 150$ para o saneamento; o fulano com Pelunka (casa), Prado, Paródia e tempo largo para socializar as suas bazofarias, a não se queixar do “kabu sta mau”; os políticos empolgando cartazes, iludindo os coitados, em lugar de darem o combate sério, já que não o são ou deixaram de o ser.
Se calhar a azágua desconseguida nos anos falidos de chuva, contribuiu e ensinou-nos, a recear muito, a pensar mais no insucesso do que ao contrário, a confundir-nos em nós mesmos, podo-nos em demasiados lamentos. Às vezes fico a pensar no seguinte: Que comerciante, que empresário, que banco, que serviço público, mas também que engenheiro, economista, médico, escritor, enfim que profissional liberal, ao ser interpelado tenha dito ou considerado a sua actividade um sucesso!? Acho que nunca ouvi isso. O oposto, sim, fica-se no do mais ou menos, no ta dizaraska, ta botâ dia pa trás, porque a culpa é sempre deles (outros que são eles próprios). Será isto algum património?
Omite-se tudo isso e fica-se em quê? Lamentos e Esquivanços… ou não sabemos falar mesmo das nossas coisas!? Se, se disser: o Ministro A é bom, claro, é manteiga … o gestor C é bom, claro, segura o tacho … o polícia B agiu bem, claro, é primo … o artista Z tem uma bela obra, claro, santo de casa não faz o milagre. O Diabo é que ficamos e vivemos do desvalor e atrelados ao inferno do não, que, o sim é luxo. Mas afinal é o sistema que não vale patavina ou será que nos fechamos e não transmitimos porque o sistema deve ser outro ou será ainda que somos um sistema mal sucedido que jamais se achou em si próprio?
Temos ou não de romper com esta farsa e atrelarmo-nos de vez à locomotiva das reformas…? Temos ou não a necessidade da criação dos fios indutores para o aparecimento de uma cultura de sucesso capaz de também criar uma dinâmica nacional com implicações directas no crescimento das pessoas, e mais do que isso, como disse o meu Djinhu irmão, «sermos capazes de conectar estas ilhas numa onda internacional ao qual só aderem os mais criativos, os mais ousados, aqueles que forem capazes de fazer a devida mixagem dos seus parâmetros de largada. A capacidade em fazer isto – a tal mixagem caboverdiana - obriga a uma dimensão ainda inexistente em Cabo Verde ou melhor, não existe como valor na cultura do país: a liderança. A nossa cultura entende a liderança como ALGUÉN KI STA ARMADU EN BOM.
Será que koitadeza não é um património do povo?
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