terça-feira, 3 de janeiro de 2017

RAPIZIUS - O Selo da Benquerença

          SELO DA BENQUERENÇA
 Era Sábado. Parecia que ia chover o dia todo. Mas não. Era chuvinha fastenta que buscava desprogramar os eventos ao ar livre. Preparava-se o cook out no recinto da Associação Caboverdiana de Brockton, onde um punhado de activistas – foguenses e bravenses, homens e mulheres, preparavam o espaço para receber o Presidente Pedro Pires de passagem pelo estado de Massashussets. As pessoas não paravam de chegar. Amigos que há muito não vía vinham ao meu encontro. Agradou-me saber que estavam bem e de saúde. Filhos, uns a trabalhar e outros a estudar. Deu para perceber também que estavam a par das notícias da terra-mãe; azágua, economia, saúde, educação, emprego, infra-estruturas, transportes etc.
De repente parou de chuviscar e abriu-se bom tempo, convidativo a encontros desta natureza. Conterrâneos e muita juventude vieram celebrar o dia, para mostrarem ao Presidente Pires o quanto ele era estimado nestas paragens. «Olha, nosso presidente tem bom espírito. Acabou de chegar, o tempo virou limpo» - disse-me um conterrâneo de face madura, enquanto um outro fazia sinal para me aproximar dele. « Olha! É Presidential’s  Seal o que está dentro desta caixa» Afrouxou e mostrou-me uma peça redonda bem trabalhada, com as armas da República de Cabo Verde. Era bonita dádiva ao homem, ao Presidente, ao amigo Pedro Pires. O selo é como o colocado no pedestal donde o presidente dos Estados Unidos comunica. «O selo simboliza o poder e a voz do Presidente» explicou-me o portador. Mas em Cabo Verde não se usa o selo presidencial: - disse-lhe. Confiante me respondeu. - Sim! Na nossa terra há muitos preconceitos. Um dia vai ter. Passei a tarde toda a reflectir sobre a ideia. Foi no jantar de gala em Lantana a entrega oficial do símbolo ao Presidente Pires sob efusivos aplausos.
Massashussetts é um grande Estado Americano. A sua história vem selada com acções, muito trabalho, muito saber e conhecimento, permitindo descobertas e inventos de toda a sorte. O trabalho e o espirito de conquista dos seus habitantes ajudaram na consolidação do poder económico, social e cultural, tendo os seus homens e mulheres erigidos em vultos da sua história ao lado de marcos e sinais que demonstram que esta bela terra é denominado Spirit of América. Boston é uma urbe de grandes realizações e de muita a riqueza construída. A abastança é uma realidade inquestionável. O emigrante de um país pobre, em pouco tempo, vê a sua condição de vida alterar de forma brusca. Se por um lado a abundancia gera a sensação de bem-estar, ela, acaba, também, por reproduzir algum sentimento de ausência, justamente, porque nas sociedades de alto consumo ter tempo para ponderar é diminuto, sendo alta a pressão profissional sobre a agenda de cada um. Muitas vezes o salário mostra-se insuficiente para as suas necessidades. Apesar disso, sem recear, concluo que a nossa comunidade imigrada tem o condão de possuir uma grande capacidade de trabalho e de integração graças ao selo da benquerença, marca de que ele portador, sinete vindo da carne das ilhas que alimenta a nossa caboverdianidade. Pode ser que haja mutações que neste momento não mencionamos. Mas, há melhorança visível da qualidade de vida do homem cabo-verdiano, esteja onde ele estiver. Ele não é um ser indiferente. Antes pelo contrário a sua maneira de ser e de se relacionar com o outro, ajuda-o a ser parte integrante de qualquer sociedade e em quaisquer pais que escolheu para viver. É justamente por esta razão que nos consideramos cidadão do mundo.
Seja como for, o condão de manter vivo o selo da benquerença pode até não ser um exclusivo do crioulo ilhéu, vivendo dentro ou fora da sua terra, porém, este selo fá-lo diferente dos muitos outros que formam as sociedades dos países que o acolhe.
Randolph, 20th Sep 2005 - Kaka Barboza

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