Dois poemas da coletânea (na gaveta) Terra Dilecta - Caminhos Cantantes -
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neste lado do mar
nem peixe nem tostão furado
há coisas que dão que pensar
o dilema é não ficar marcado
neste lado da terra
há buraco que gora o andar
há gente que tudo emperra
a calema é o deixar ficar
neste lado da vida
há mil braços p’ra trabalhar
mas ele é vento que assobia
que só acorda para passear
neste lado do povo
se podia ser bem mais feliz
se refém não fosse o voto
d’um molho de porcos xix
neste lado da alma
há filho que o ventre chora
odeia os poderes e a fama
a sociedade tudo ignora
neste lado do canto
há luta artilhada à espera
há peito despido de pranto
há guerra no vigor da terra
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tanto expor o acordo assinado
conversa fiada e cifrões à solta
aquele rosto no ecrã plantado
bem maquiado e flores á volta
tele-fingindo agindo com jeito
bla-blá o embrulho p’ra malta
ninguém escuta o tal sujeito
na jorna é manchete sem falta
o que queria e o pretendido
pouco do nada logrou dizer
do conhecido mal escondido
claro ficou e nada a condizer
o povo é rua que não chora
é riso dum orgulho que voga
é coragem que tudo remove
é brado que nunca se afoga
o povo é o lado duro da vida
onde a razão tem destreza
onde o zero é coisa dividida
onde a verdade trai certezas
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