segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

RAPIZIUS - Fogo d'África



FOGO D’AFRICA É PUJANÇA E DECLIVE

Fogo d’ África é um espaço de permanente convívio e música. Todos os fins-de-semana Nhô Nani ao violino e a banda de suporte estão ali à nossa espera. Vir à Praia sem visitar Fogo d’África é o mesmo que perder o bilhete da viagem no aeroporto de partida. Viver na Praia sem frequentar este lugar é desviver. Fogo d’África é pujança e declive. Nho Nani é um músico entusiasta que todos apreciam. Um amigo e moço de bons modos. Empenha-se muito para tirar boa sonoridade com o arco sobre as cordas do seu violino electrónico. Quem escolhe Fogo d’Africa para se divertir tem de ter ouvidos de bronze para aguentar os altos decibéis que as colunas agitam horas seguidas. Mas o ambiente é fabuloso. Há muito calor humano... Diga-se, masculino e feminino. Os pares amarrados pelo ritmo e pela melodia movem-se como se estivessem a viajar no trem da felicidade.
Eram três horas e tal da manhã quando cheguei à casa. Como de costume dirigi-me ao frigorífico buscar água fresca da garrafa de vidro e coloca-la na minha caneca inox. Dali, dou uns passos, fico à janela, tomo uns goles, paro a olhar o céu, a conferir a posição das estrelas e descobrir se não escorrega nenhuma do seu lugar em direcção ao olho de deus. Praia tem mau céu estrelado por causa do reflexo das luzes da cidade. O melhor céu estrelado visto foi em Assomada. Recentemente foi na ilha Brava, em Senhora do Monte, onde o escuro é amplo com os astros a mostrarem-se, tranquilos e tiritantes. Fascina-me o céu estrelado. Fico a pensar nas luzinhas que não se cansam de cavar o buraco onde moram ficando de fora o rabinho faiscante a abanar, semelhando fuga de feiticeiras levando consigo os recém-nascidos. O ponto luminoso maior era um planeta. Apostei em Marte. Mas a minha vista cansada dava a entender que se deslocava na direcção oposta à janela. De tanto olhar para o alto, tudo parecia ter entrado dentro da minha cabeça. Se sonhava ou se viajava não pude perceber no imediato.

De repente um gesto enigmático pôs-se a meu lado e começou a murmurar aos meus ouvidos: Olá! Saíste muito cedo de lá! Voltei a cara para o lado. Repetiu-se o sussurro: Olá rapaz! Eu queria tanto ficar contigo. O bafo era cigarro e bebida. Bafo de quem tinha bebido instantes atrás, envolvido em cheiro de perfume caro. Madame Dior, talvez. Não tinha certeza. – Que queres de mim?  Perguntei. A voz respondeu: - Vim! Apaixonei-me por ti. Fugi com a cara. - Porra! Eu! Quem és tu! A voz explicou. – Olha, não estou para muita conversa. Vais-me dar o prazer de te tocar e de te beijar. Não tenhas medo de mim. Explicou-me em voz baixa. – Sai! Vai e deixa-me em paz, vagabunda, filha da noite. Senti uns lábios frios a beijar-me o pescoço. Um calafrio tomou-me conta da espinha a querer tirar-me forças. Ao sentir o aproximar do seu corpo ao meu, defendi com a mão que segurava a caneca de água, acertando na parede ao lado, entornando-se o resto da água no chão. Afastei-me da janela por uns momentos. Voltei a ficar no mesmo lugar e na mesma posição, a querer enxergar algum movimento. Mas, vi nada. Permaneci de pé junto à janela. Instantes depois percebi que do chão vinha um cheiro a álcool. Provavelmente, rum, bebida que uso com frequência. Para comprovar a situação, trouxe a caixa de fósforo, acendi o pauzinho, aproximei o lume do derrame, puufffff... um fogo azulado subiu no ar, cheirando a nada. Dai, senti um toque no ombro. Perdeste! Soou um vuuuoooop... como se o vácuo tivesse sugado qualquer coisa dali. Até o dia de hoje aguardo por um contacto semelhante sem que tal tivesse acontecido. Quando escrevo a altas horas da noite dou por finados machos a me rondar, mas finado fêmea, creio, ter afastado de vez. Segundo a tradição popular finado fêmea é prestimosa ao seu vidente. 

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RAPIZIUS

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