Não era assim noutros tempos. Mas virou, assim. O caboverdiano fala
por falar. Fala por necessidade de manter a boca acesa. É exemplo o crioulo
parlamentar que rasteja a língua para falar e deixa por dizer o que devia. Basta
escutar uma única vez as discussões no parlamento ou então as comunicações
diárias dos governantes. Não trazem nada de novo. Pensam que todos são iguais a
eles. Todos não são iguais a eles. Nunca. Então há quem não entende o que o outro
diz. Então, não há quem descobre quando se fala por falar. Hoje na nossa terra
fala-se e fala-se muito. Fala-se a imitar discursos de outras realidades políticas,
sociais, económicas e culturais. Os discursos são discursos de neocolonizados. De lamentos e queixumes. Qual
autonomia! Quais reformas! Reformas, sim. De cada vez que renova uma
legislatura mudam-se as pessoas, as designações dos ministérios, dos serviços e
dos institutos públicos, mudam-se as aparências, enquanto as atitudes, os procedimentos
e os comportamentos mantêm-se. A reforma nunca acontece porque aqui na terra qualquer
barraca é património. Porque não? A reforma não acontece porque o sistema dá
leite para meia dúzia de bezerros. Grande ou pequena, a corrupção é património.
Como expurgá-la se virou sabedoria? Se virou um dado adquirido? Se virou forma de manter o circuito de interesses?
Mas o que, de facto,
é património estão às lagartixas, toma vento, toma sol e depois hiberna. Exemplo:
o conhecimento, o saber fazer, o saber dizer, o saber estar, saber relacionar e
saber comunicar, ter bom nome social e boa conduta não é tido por património, não
está agendado. Ao invés, a incúria, a desobediência e o oportunismo tornaram-se
prática dos cidadãos refractários, apostados na ostentação, nas inverdades e em
doutorice, tudo isso, constituído património da mediocridade, dos que de cada
vez que o poder passa para as suas mãos fazem o que sabem, o que herdaram do colégio
ideológico a que pertencem, falam por falar, apoderam-se dos andaimes da
arrogância e tornam-se vaidosos e cegos pelo poder.
Os políticos que temos são produto de uma terra em festa
permanente.
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