PENADA SINKU
Ao vos apresentar o meu quinto livro CÃNTICO ÀS TRADIÇÕES, um livro de Contos & Estórias de Ponta Esquina, escrito em língua portuguesa e em caboverdiano, fica este desabafo: «fantasio ser um artesão da palavra capaz de escrever nas duas línguas da nossa cultura com aptidão e correcção.» Pode ser que não venha a ser. Mas acredito que, em não podendo fazê-lo, uma outra pessoa interessada o pode. É vencer alguns desafios. A aprendisagem, a redacção e a prática é a chave, enfim o exercitar da mente, treinando prego no papel.
Ao vos apresentar o meu quinto livro CÃNTICO ÀS TRADIÇÕES, um livro de Contos & Estórias de Ponta Esquina, escrito em língua portuguesa e em caboverdiano, fica este desabafo: «fantasio ser um artesão da palavra capaz de escrever nas duas línguas da nossa cultura com aptidão e correcção.» Pode ser que não venha a ser. Mas acredito que, em não podendo fazê-lo, uma outra pessoa interessada o pode. É vencer alguns desafios. A aprendisagem, a redacção e a prática é a chave, enfim o exercitar da mente, treinando prego no papel.
Falar, saber falar e saber escrever bem o caboverdiano está ao alcance de todos. Mas, primeiro é matar os preconceitos existentes em relação á nossa própria língua. Segundo é anular a ideia que se tem de qual crioulo é que vai ficar. (Burrice... senão Madeira e Açores eram visigodos). A lingua do caboverdiano existe tal qual este povo a criou. Terceiro nem o crioulo, nem Alupec (alfabeto) nem os meus poemas e letras das minhas canções são do Manuel Veiga Linguista. Dizia eu, que é um nítido e seguro ponto de partida, para se evoluir em outras línguas e, quando isso acontecer teremos então gerado o que ainda não se verifica: a assunção do verdadeiro português falado e escrito pelos caboverdianos. Explico-me para não ficarem dúvidas: verdadeiro no sentido material da coisa (fluência, musicalidade e conotação próprias) onde as ênfases de cada ilha funcionam como autênticos temperos de linguagem. Os jovens escritores angolanos e mocambicanos dão-nos prova disso.
Em “CANTICO ÀS TRADIÇÕES” encontramos o seguinte:
1º. O conteúdo é puramente "santiago-caboverdês" concretamente Santa Catarina espaço do meu taganxo;
2º. O vernáculo a influenciar a escrita, e a escrita assente nessa procura do português caboverdiano, figurando determinadas palavras nativas, para que as frases ou as enunciações não ficassem descalças da sua significação, importância e fidelidade.
Assim, na portada do livro, da nota de abertura, lê-se o seguinte:
Esta colectânea de Contos e de Estórias de Ponta Esquina compõe-se duas partes, uma escrita em português e outra em ‘caboverdês’, duas línguas da nossa cultura colocadas aqui em pé de igualdade, sem complexos, sem prejuizos, certo de que o domínio de ambas abre e aumenta em todos nós a possibilidade de melhor nos instruirmos noutros idiomas.
De há vários anos a esta parte, baseada na experiência própria, a aposta do autor tem sido conduzida no sentido da obtenção de um resultado que visa lançar pistas para uma futura união ortográfica e bases para a criação de uma literatura moderna em ‘caboverdês’.
Esta colectânea é um cântico onde a memória e a mundivivencia se confundem na palavra tradição, mas também onde a paisagem, as crenças, os mitos, as crendices e as personagens simbolizam os contornos de um mundo em que as gentes e os meninos desse tempo jamais deixaram de acreditar.
Era na boquinha di tardi qui pardal ta binha di campo sintaba na ques árvore grandi di praça di Vila di Assomada, rodiado pa casa di Nha Babá di Senhor Barreto, pa varanda di Correio, Paços di Concelho, Igreja y Casa di Irmãs di Caridade, qui mininos ta djuntaba na um di ses esquina, tudo dia, pa ovi contado estória té muto tardi. Tinha rapazes qui ta fazeba nós vive fantasia y emoções di conto qui ta lebaba nós a esquece di hora di jantar. Canto y canto vez no leva castigo pamódi no ta tchigaba casa tardi.
Ca ta faltaba també partidas di Bocaje, Djon Grandi, Djon Piqueno, Djon Sem Medo, heróis, qui ta maravilhaba mundo di nos meninensa. (Kaka Barboza).
Vivamos um pouco estes dois textos:
«Vamos! Vamos! Depressa para a lição». Aquela voz de cana rachada ecoando na sala fazia tremer o coração dos alunos e parecia baralhar o ar dentro do compartimento enquanto ele não indicasse por onde ia começar. Port... Hist… Geog... Aritm... Ciênc… páginas destes livros rebolavam como faróis respirando fogosamente na cabeça dos alunos. Isto acontecia num tempo em que ser professor era como atear o fogo em lenha verde num fogão de três pedras e para os alunos a escola era um calvário de aprendizagem.
- Tu, ali, menino! Quem mandou plantar o pinhal de Leiria?
- O pinhal de Leiriiiia. O pinhal de Leiii.
- És algum ruminante? Ruminar perguntas para quê? Vá, diz lá e depressa.
Confuso, o menino tinha levantado os olhos do chão piscando para o lado. Uma sopradela fê-lo responder de pronto: - Egas Moniz.
Mal fechou a boca a palmatória tinha caído com tanta força sobre a tampa da mesa que o estalido fez estremecer o tímpano da classe fazendo-a abaixar a cabeça de medo.
- Chegaste a abrir alguma vez o livro de história, seu burro! E quem foi Egas Moniz?
- Ele ajudou D. Afonso Henriques a fundar o seu castelo: - disse o aluno.
- És pior do que a porta do castelo que tens dentro da tua cabeça.
O pau de giz arremessado em direcção ao menino passou como um raio acabando por se partir em três bocados ao bater contra o quadro. O menino era baixinho e escrevia com dificuldade naquela ardósia larga colocada de forma oblíqua sobre o cavalete de madeira posicionado no canto esquerdo da sala.
- Não estás a desenhar balaios... ó burro. Escreve direito. Seu batráquio. Com letras equilibradas. Vá! Como deve... a última palavra caiu juntamente com mão pesada da palmatória forte na cabeça do aluno fazendo-o recuar como que sugado pelo intervalo das carteiras que se alinhavam como umas jangadas vazias. Atarantado e a soluçar, o menino aproximou-se do quadro a tentar corrigir tudo vigiando sempre a posição do professor.) Do texto “Viva a 4ª Classe”.
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(Txéki! Txéki! Passa negro! Dobra as asas e desaparece. Teu sítio é lá na ponta do Mau Passo onde tem rocha ruim. É lá que a tua mãe te pariu e te largou vago no mundo. Covarde! Dobra as asas e vai-te poisar lá no lugar de Nho Cirilo que não tem guarda. Úúú-o-o. Desaparece no inferno! Vai, Chico Dias! Txéki! Txéki!
Depois dos exames era assim por todo o lado. Gritos eufóricos tomavam conta dos ouvidos das pessoas e o quotidiano delas estava virado unicamente para azágua. Nos finais do mês de Julho, as terras do sequeiro traziam sinais de covas entulhadas. Uma de feijão ou duas de fava e quatro grãos de milho. No abrigo da terra eram fortes doses de esperança cativas na emergência da queda de uma boa chuvada. Tinha gente que por agoiro semeava em pó, isto é, depois da primeira lua de Julho e outras adivinhando a presença das chuvas detrás dos sinais do tempo metiam confiantes os grãos na terra seca. Sementeira é em chão molhado, assim cria Nho Zebedeu.
Os meninos viviam com entusiasmo o guarda-corvo, tarefa, sem dúvidas divertida e igualmente muito importante já que era uma das condições essenciais para se garantir o emergir do verde vivo que só o chão molhado sabia pintar. Os guardas da sementeira atiravam fundas para o céu e diziam nomes feios esconjurando os corvos de cada vez que eles passavam sobre os espaços semeados. A pior coisa que se podia dizer a uma pessoa era que ela se comportava como um corvo.
Não tinha poiso certo este viageiro vestido de negro, perseguido por todos onde quer que fosse. Estes daninhos duma figa acabavam sempre familiarizando-se com os espantalhos sobretudo quando a fome os apertava. Poisavam mesmo assim sobre as covas e lá conseguiam esgaravatar e descobrir os grãos de milho deixando os de feijão. Qualquer distracção ou ausência prolongada dos vigilantes era fatal. Vasculhavam tudo e causavam sérios danos à sementeira. Nem a astúcia em se espalhar os grãos dentro da cova os confundia.
O quinze de Agosto, dia de Nossa Senhora da Graça, era considerado a altura limite para a queda das primeiras e significativas chuvas. Não se registando, as pessoas começavam a encarar a hipótese do ano atrasado, ou de má azágua. Do texto (Chico Dias)
Eis alguns exemplos daquilo que eu quis que fosse entendido. Comprem este livro pfvr. Kb
1 comentário:
óla kaka! é assim à três anos que vivo çá em Portugal e acho que nunca tive oportunidade de conhecer-te pessoalmente, a minha namorada é Portuguesa e quer aprender o Criolo aonde posso encontrar este tue livro? e acho giro este ideia de escreve-lo nas duas linguas. Parabéns!
www.teatroopalcodavida.blogspot.com
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