1. Na vida de um artista ver uma obra publicada, seja qual for a sua natureza, é um momento exaltante para o autor. Ele é o primeiro a amá-la, e o último a recusá-la. Não estou vendo outra hipótese, já que uma obra é fruto do talento do seu criador, cujo impacto o ajuda a medir os passos da sua carreira artística, considerando os prós e os contras.
2. O Cd recém lançado no mercado por Zezé de Nha Reinalda tem merecido várias apreciações críticas por parte dos que o adquiriu e dos que, simplesmente, através da radiodifusão tiveram acesso a alguns dos mais significativos temas, nomeadamente, DUKUMENTU, título da colecção. Fala-se a boca miúda que, opostamente ao advogado pelo próprio Zéze, o disco, não é um bom disco, porque ficou muito aquém daquilo que se aguardava de um compositor referência obrigatória no nosso panorama musical.
3. Quanto a mim o Zéze cometeu falhas imperdoáveis na interpretação dos temas a que tanto se dedicou. A sua soberba voz tenor, rara em Cabo Verde, não se revelou estável, não esteve com o Zéze que vimos em Lua di Vidro, Kaminhu di Djabraba, Guentis d’Azagua, Feia Kabelu Bedju, Enterru dun Kamponês, músicas que perfizeram uma época, que marcaram o percurso do cantor, e que nos mergulhou fundo nas nossas vivências crioulas. Não. Não foi desta vez que o Zéze me agradou e se representou melhor cantando. Na edição da longa entrevista publicada nos jornais, o Zéze defendeu-se, escudando-se desta forma: «nunca gostei da unanimidade», antecipando-se à crítica. Ele sabe que o fez. Preveniu-nos. Mas, nós somos seu amigo, apreciador das suas qualidades como pessoa e como músico. Sem dúvidas nenhumas que ele pertence á galeria dos bons, dos nossos bons criadores de sonoridade.
Estaria a faltar-lhe mesmo um director musical do calibre de Paulino ou Kim Alves, ou de um outro que exigisse dele mais naturalidade e rigor na interpretação??
4. O porquê do fraco sucesso?
Quanto a mim o Zezé não pôde controlar as suas emoções no momento da verdade – registo – deixando-nos a sensação de que ele, Zéze, não esteve no canto que se propôs cantar, destrabalhando um pouco a voz, permitindo deslizes (sobretudo nas subidas de tom) diligenciando-se mais em justificar o teor das mensagens que ajeitou para a sociedade, do que manter a calma suficiente para melodizar como nos velhos tempos, e, de maneira nenhuma, não por falta da boa base instrumental que o disco contém.
5. Todavia, é preciso continuar a ouvir com bons ouvidos e apreciar o virtuosismo que o compositor Zezé di Nha Reinalda, nosso músico, nosso amigo colocou nos seus temas. Acredito que ele tem muito ainda para dar à nossa praça, carente da boa música, carente da qualidade e mais carente ainda de bons apreciadores. O Zézé tem o grande mérito de nunca ter sido pedinchão dos fastidiosos apoios e outras lamúrias do género. Sei que ele entenderá onde eu quero chegar com este apontamento.
Fica um meloabraço deste seu admirador sincero.
Fica um meloabraço deste seu admirador sincero.
Kaka Barboza
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