domingo, 27 de janeiro de 2008

Bilhete Descomplexado



1. Na vida de um artista ver uma obra publicada, seja qual for a sua natureza, é um momento exaltante para o autor. Ele é o primeiro a amá-la, e o último a recusá-la. Não estou vendo outra hipótese, já que uma obra é fruto do talento do seu criador, cujo impacto o ajuda a medir os passos da sua carreira artística, considerando os prós e os contras.

2. O Cd recém lançado no mercado por Zezé de Nha Reinalda tem merecido várias apreciações críticas por parte dos que o adquiriu e dos que, simplesmente, através da radiodifusão tiveram acesso a alguns dos mais significativos temas, nomeadamente, DUKUMENTU, título da colecção. Fala-se a boca miúda que, opostamente ao advogado pelo próprio Zéze, o disco, não é um bom disco, porque ficou muito aquém daquilo que se aguardava de um compositor referência obrigatória no nosso panorama musical.
3. Quanto a mim o Zéze cometeu falhas imperdoáveis na interpretação dos temas a que tanto se dedicou. A sua soberba voz tenor, rara em Cabo Verde, não se revelou estável, não esteve com o Zéze que vimos em Lua di Vidro, Kaminhu di Djabraba, Guentis d’Azagua, Feia Kabelu Bedju, Enterru dun Kamponês, músicas que perfizeram uma época, que marcaram o percurso do cantor, e que nos mergulhou fundo nas nossas vivências crioulas. Não. Não foi desta vez que o Zéze me agradou e se representou melhor cantando. Na edição da longa entrevista publicada nos jornais, o Zéze defendeu-se, escudando-se desta forma: «nunca gostei da unanimidade», antecipando-se à crítica. Ele sabe que o fez. Preveniu-nos. Mas, nós somos seu amigo, apreciador das suas qualidades como pessoa e como músico. Sem dúvidas nenhumas que ele pertence á galeria dos bons, dos nossos bons criadores de sonoridade.
Estaria a faltar-lhe mesmo um director musical do calibre de Paulino ou Kim Alves, ou de um outro que exigisse dele mais naturalidade e rigor na interpretação??

4. O porquê do fraco sucesso?
Quanto a mim o Zezé não pôde controlar as suas emoções no momento da verdade – registo – deixando-nos a sensação de que ele, Zéze, não esteve no canto que se propôs cantar, destrabalhando um pouco a voz, permitindo deslizes (sobretudo nas subidas de tom) diligenciando-se mais em justificar o teor das mensagens que ajeitou para a sociedade, do que manter a calma suficiente para melodizar como nos velhos tempos, e, de maneira nenhuma, não por falta da boa base instrumental que o disco contém.
5. Todavia, é preciso continuar a ouvir com bons ouvidos e apreciar o virtuosismo que o compositor Zezé di Nha Reinalda, nosso músico, nosso amigo colocou nos seus temas. Acredito que ele tem muito ainda para dar à nossa praça, carente da boa música, carente da qualidade e mais carente ainda de bons apreciadores. O Zézé tem o grande mérito de nunca ter sido pedinchão dos fastidiosos apoios e outras lamúrias do género. Sei que ele entenderá onde eu quero chegar com este apontamento.
Fica um meloabraço deste seu admirador sincero.
Kaka Barboza

Sem comentários:

RAPIZIUS

                                                                                                         MINHAS AMIZADES COM DIAHO ...