Meus caros
Li, em tempos, um artigo que analisava vários tipos de músicas produzidas em diversos países, as suas influências e os mercados do consumo. Entre outras afirmações, registei: «anti-música é para salvar a música». «Anti-música» foi tida como um tipo de música nova vinda de uma certa franja inconformada ou seja de grupos com boa formação musical, que decidiram seguir caminhos próprios, rompendo com certos padrões consagrados. Esta situação, conotada com o que se passa na terra de O. Pantera, comecei a perguntar a mim mesmo: Temos nós anti-música? Se sim, qual é? Salvar como? Produtores e promotores onde param?
Às tais perguntas os seguintes comentários:
1.A nossa sociedade tal como ela se nos apresenta hoje, é, para mim, uma sociedade carente de satisfações, sim, mas mais de ordem imaterial do que material, por um lado, ditadas pela redução da importância do passado, com os seus rituais, crenças, mitos, cantigas, estórias e lendas, por outro lado, pela fraca sedimentação do novo em constante aquisição, afectando a automotivação das pessoas. Há retardanças dum lado, há adiantamentos do outro. Há sectores advertidos, há os entorpecidos. Mudar, para virar o fraco em robusto, é um processo idêntico ao do vaso-transmissor. Por exemplo: enquanto temos o oceano a tapar-nos os olhos, água na torneira não; enquanto temos uma selva de sonoridade, música de qualidade, pouca; enquanto há uma riqueza cultural notável, (por explorar) produtos culturais de competição, fracos. Paradoxal! Não é?
2.Pois, a cultura tem de ser vista como um todo. Como pertença de um povo não tem dono e ninguém manda recado à cultura para ela ter em conta x,y,z coisas. É preciso cultivar a cultura investindo em espaços e nos seus criadores, lá onde estiverem. Se as escolas, liceus e universidades, ajudam o processo, os núcleos de interesse não devem excluir-se.
Sejamos líquidos uns com os outros. No culto da nossa melodia há muita música com rosto-de-plástico, e tem o valor que tem; na prateleira musical nacional há carradas de CD’showismo; há festival musical oficioso a granel, … (forma de os artistas e bandas sobreviverem?) – tudo em nome da cultura – exceptuo deste contexto o festival da morna na Boa Vista.
3.Há bem poucos dias ouvimos no – Grande Salto – que: «a música contribuiu bastante o progresso do nosso país», (que música?) mas a realidade nua e crua com que essa notável pertença se confronta, meus caros, é muito adversa. Se há corpos que nutrem sons delirantes, há cabeças preteridas de apreciar um bom som. Se há ambientes (muitos) em que a mensagem vale o que vale, ambientes onde a mensagem é apreciada, poucos/raros, quer se trata de música ou de «antimúsica».
4.Assim sendo, no nosso caso, se «anti-música» é a música dos Cd’s taxativamente recosidos de zouk, déka, kuduru, bruku-bruku e rapsó-ypop, etc. e outros forrobodós copiados a torto e a direito, largamente difundidos; dos Cd’s velhacos ricos de imbecilismo, grávidas de plágio e falidos em letras, pão-nosso de cada dia, estamos vertiginosamente feitos.
5. As rádios e as televisões, ao menos as públicas, (rádio meio mais à mão de todos) se não gerirem melhor o tipo de cobertura que vêem dando a este estado de coisas, contrapondo, positivando a boa música, não á noitona, quando, geralmente, está-se fora, nas discotecas, bares, xintadas tardias e no sono, mas sim de dia, mais horas e mais vezes por dia, estamos feitos.
Nestes termos, jamais o país do Panterobatuku conhecerá e falará do Trás di Son, Dança das Ilhas, Fragmentos, do Mário Lúcio, do Vasco Martins, de Cordas do Sol, do Talulu, do Vlu, etc. e jamais saberá distinguir e falar dos autores e compositores, e de apreciar os instrumentistas, etc. jamais a música de boa qualidade tomará assento no palco das boas audições; jamais as outras artes engrossarão os seus públicos.
6.Temos de poder abordar e avaliar, sem complexos, a prateleira da discografia nacional – discografia projecto –, e … (ia pedir desculpas, mas lembrei-me do saudoso Manuel Delgado, que ao conferir um texto meu, findou, dizendo: «sim senhor, mas a pena do poeta não pede desculpas») … dizia, e uma certa “discografia lasciva” alinhada com outros interesses.
Há muita fedegosa em redor, mesmo ao pé do nosso olfacto que, francamente, ao meu violão e aos meus grilos em nada agradam. É o que penso.
Um blogabraço de kaka barboza.
Li, em tempos, um artigo que analisava vários tipos de músicas produzidas em diversos países, as suas influências e os mercados do consumo. Entre outras afirmações, registei: «anti-música é para salvar a música». «Anti-música» foi tida como um tipo de música nova vinda de uma certa franja inconformada ou seja de grupos com boa formação musical, que decidiram seguir caminhos próprios, rompendo com certos padrões consagrados. Esta situação, conotada com o que se passa na terra de O. Pantera, comecei a perguntar a mim mesmo: Temos nós anti-música? Se sim, qual é? Salvar como? Produtores e promotores onde param?
Às tais perguntas os seguintes comentários:
1.A nossa sociedade tal como ela se nos apresenta hoje, é, para mim, uma sociedade carente de satisfações, sim, mas mais de ordem imaterial do que material, por um lado, ditadas pela redução da importância do passado, com os seus rituais, crenças, mitos, cantigas, estórias e lendas, por outro lado, pela fraca sedimentação do novo em constante aquisição, afectando a automotivação das pessoas. Há retardanças dum lado, há adiantamentos do outro. Há sectores advertidos, há os entorpecidos. Mudar, para virar o fraco em robusto, é um processo idêntico ao do vaso-transmissor. Por exemplo: enquanto temos o oceano a tapar-nos os olhos, água na torneira não; enquanto temos uma selva de sonoridade, música de qualidade, pouca; enquanto há uma riqueza cultural notável, (por explorar) produtos culturais de competição, fracos. Paradoxal! Não é?
2.Pois, a cultura tem de ser vista como um todo. Como pertença de um povo não tem dono e ninguém manda recado à cultura para ela ter em conta x,y,z coisas. É preciso cultivar a cultura investindo em espaços e nos seus criadores, lá onde estiverem. Se as escolas, liceus e universidades, ajudam o processo, os núcleos de interesse não devem excluir-se.
Sejamos líquidos uns com os outros. No culto da nossa melodia há muita música com rosto-de-plástico, e tem o valor que tem; na prateleira musical nacional há carradas de CD’showismo; há festival musical oficioso a granel, … (forma de os artistas e bandas sobreviverem?) – tudo em nome da cultura – exceptuo deste contexto o festival da morna na Boa Vista.
3.Há bem poucos dias ouvimos no – Grande Salto – que: «a música contribuiu bastante o progresso do nosso país», (que música?) mas a realidade nua e crua com que essa notável pertença se confronta, meus caros, é muito adversa. Se há corpos que nutrem sons delirantes, há cabeças preteridas de apreciar um bom som. Se há ambientes (muitos) em que a mensagem vale o que vale, ambientes onde a mensagem é apreciada, poucos/raros, quer se trata de música ou de «antimúsica».
4.Assim sendo, no nosso caso, se «anti-música» é a música dos Cd’s taxativamente recosidos de zouk, déka, kuduru, bruku-bruku e rapsó-ypop, etc. e outros forrobodós copiados a torto e a direito, largamente difundidos; dos Cd’s velhacos ricos de imbecilismo, grávidas de plágio e falidos em letras, pão-nosso de cada dia, estamos vertiginosamente feitos.
5. As rádios e as televisões, ao menos as públicas, (rádio meio mais à mão de todos) se não gerirem melhor o tipo de cobertura que vêem dando a este estado de coisas, contrapondo, positivando a boa música, não á noitona, quando, geralmente, está-se fora, nas discotecas, bares, xintadas tardias e no sono, mas sim de dia, mais horas e mais vezes por dia, estamos feitos.
Nestes termos, jamais o país do Panterobatuku conhecerá e falará do Trás di Son, Dança das Ilhas, Fragmentos, do Mário Lúcio, do Vasco Martins, de Cordas do Sol, do Talulu, do Vlu, etc. e jamais saberá distinguir e falar dos autores e compositores, e de apreciar os instrumentistas, etc. jamais a música de boa qualidade tomará assento no palco das boas audições; jamais as outras artes engrossarão os seus públicos.
6.Temos de poder abordar e avaliar, sem complexos, a prateleira da discografia nacional – discografia projecto –, e … (ia pedir desculpas, mas lembrei-me do saudoso Manuel Delgado, que ao conferir um texto meu, findou, dizendo: «sim senhor, mas a pena do poeta não pede desculpas») … dizia, e uma certa “discografia lasciva” alinhada com outros interesses.
Há muita fedegosa em redor, mesmo ao pé do nosso olfacto que, francamente, ao meu violão e aos meus grilos em nada agradam. É o que penso.
Um blogabraço de kaka barboza.
3 comentários:
Caro Kaka
Este belo texto remeteu-me quase que de imediato para uma fantástica entrevista do grande mestre Paulino Vieira, dada no Semana OnLine, há bem pouco tempo. Quantos ensinamentos não poderiamos tirar de tão sábias palavras?
Não é só na música, é em toda a forma de manifestação artistica. Cultiva-se (pela ausência de vozes / pela massificação de gritos), cada vez mais, a mediocridade. E o pior, poucos se dão conta disso.
O grande receio é o de que, quando despertarmos, possa ser já tarde demais.
Um abraço aqui do Norte
Obrigado João pela leitura opinativa. Varias coisas estão para ser ditas aqui no Blg.
Sairá este ano um livro meu com abordagens do tipo, quiça questionamentos outros. Um blogabraço Kb
"Mr Kaka"
um bom desabafo(construtivo) e um bom dedo apontado là ondé kel ta fazé mal, e interessante de sabé que pa curà nôs mal nô têm que conhecé causa de nôs problema, e sem rodeios "bôcé" fazél! Sabendo causas de mal, às vezes por falta de vontade geral( fazendo excepções, "bien sur") nô ka ta consegui encontrà antidoto, e tcheu vêz também é de nota ke pessoas ta preferi facilidade ( podia ser comodismo) à trabalho de rigor,de pesquisa, de crê conché tradison de terra k vasto e inesgotavel fonte inspiração e riqueza(parte que alguns ta da mais importancia), serà do kerer resultados rapidos? sinceramente um ka sabé sês motivação(entre nôs ka ta interessame muito,se um pensà na sês resultode), ma bom ainda bem k ta exiti alguns Don Quixotes(bocé caso) que ta ba ta lutà contra ês moinho de vento (ês pra nôs desgosto bem real, e que ta prolifera cada dia , ta engoli nôs princesa-cultura-tradison) um abraço e continue
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