Fui a Nho Eugénio tomar aquela coisa das sextas-feiras.
Encontrei ali um velho amigo mindelense acabado de chegar à Praia. Conhecemo-nos nos anos sessenta. Após o café e conversa animada sobre as seduções de Mindelo,
despedimos um do outro. Muita coisa mudou em São Vicente. Mindelo de outrora era de boas amizades, bons
convívios e passeatas.
As festinhas de grupo tinham outra reputação. Senti saudades de Mindelo e suas virtudes.
A Livraria Nho Eugénio é como um templo de novidades. Além de livros, é
ponto de encontro de amigos e de rapizius, ou seja de colóquios. Ao deixar o
local, apurei que havia festim no recinto ao lado, na Escola Nova Assembleia. Dei
um jeito e fui espreitar a risada que transbordava para a rua. Aproximei-me como
espião. Furei a portaria do recinto para ver a festa. Várias turmas estavam
reunidas no salão. Havia muita alegria. Dessas alegrias que só acontece numa
colmeia, onde as abelhas estonteadas pelo doce zumbem de satisfação. Pus-me do
jeito para não ser visto. Não quis que as netinhas me vissem para não lhes atrapalhar
a concentração. Outrossim, a presença de estranhos nestas ocasiões limita a liberdade
de expressão e de manifestação dos meninos. Exibia-se um filme para crianças. Todos
seguiam entusiasmados o diálogo dos bonecos sobre a higiene e a protecção ambiental.
Ninguém tirava a cara do improvisado ecrã. Lá a professora descobriu-me, mas fiz
sinal para não se manifestar, colocando o polegar nos lábios. O recinto assemelhava-se
a um painel multicolor, qual arco-íris, era um cenário que só os meninos dessa
idade sabiam colorir com gestos duma inocência cativante. Deixei o ambiente
justo no momento em que as pancadas na jante de automóvel pendurada numa haste
fixa na parede anunciavam o fim das aulas, momento do bulício anunciante da
largada dos alunos que, á sombra das acácias, em grupo aguardava o acolhimento
dos familiares e os acompanhantes. Outros lançavam-se em correrias atrás dos
mais inquietos. Foi um dia excepcional para as minhas netas e para mim também. Ansioso,
aguardava, como é hábito, o relato das netinhas sim que chegassem à casa, enquanto
eu verificava a panela ao lume.
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