Fui tomar aquela coisa das sextas-feiras no Nho Eugénio.
Numa mesinha de duas cedeiras uma era ocupada por José Maria Neves. Tinha á
frente a chávena de café, quer dizer, café tomado.
Cumprimentei-lhe e convidou-me a ficar. De seguida, chegou
Eurico Pinto Monteiro que se juntou a nós. Três primos duma sentada na
prestigiada Livraria Nho Eugénio. Zé Maria estava bem disposto. Calmamente, disse, apenas isto: "passei na maior tranquilidade tudo o que devia ser
passado ao novo Primeiro Ministro".
Assim é que é quando se é um homem de estado: - Disse para
ele.
Falamos da necessidade de férias e do distanciamento da
política por algum tempo. Ele, Zé Maria, é um dos mentores da Academia
Caboverdiana de Letras. Foi ele quem autorizou a cedência do prédio onde é a
sede da ACL e quem a inaugurou. Tem lá o seu lugar de académico.
Em conversa exortei-o a escrever. A escrever, sobretudo,
poesia para o bem da espiritualidade literária das ilhas. Doravante, ele é um
homem livre com opções diversas - formador, académico ou consultor e
conferencista.
Deixa marcas em todas as ilhas, marcas da sua governação.
Marcou Santiago de forma significativa e duradoura.
Podem dizer tudo quanto quiserem dele. Houve quem disse que
se: Narciso estivesse vivo morreria de ciumes. Mas, quem neste mundo não foi narcisista por um segundo. Só os bárbaros não o foram.
Quem acompanhou os discursos do Zé Maria Neves, enquanto
primeiro responsável do governo nestes quinze anos, não encontrará, por certo,
em momento algum, um conteúdo assistencialista, discurso de coitadeza, de
lamento e de resignação. De espirito altruísta ele sempre convidou toda nação a
sonhar com ele, a alavancar do alicerce das dificuldades a coragem, a força e o
sentido patriótico na realização do progresso.
Muitas vezes acontece os espíritos audazes marcharem muito á
frente do calendário civil e do ritmo biológico do seu povo ou da sua
comunidade. Não fosse assim, estaríamos a cantar Mar é Morada di Sodadi,
Caminho de Santómé e Fomi 47, em pleno 2016, ainda hoje, dia da entrega da
governação ao novo Primeiro Ministro - Ulisses Correi e Silva.
Será que o povo entendeu que UCS de estatura física
semelhante ao do Zé Maria era quem melhor podia ocupar a cadeira do poder?
Um dia o poeta Mario Fonseca, disse-me: " Olha cuidado
com os líderes baixinhos " “eles são como malaguetinha”. “São obstinados e
audazes”. UCS é baixinho. É um líder baixinho.
Quero crer, por aquilo que tenho ouvido, UCS poderá vir a
ser no horizonte desta legislatura, uma figura marcante, não pelo conteúdo da
campanha, momento de grandes emoções e empolganços, mas por aquilo que vai
poder fazer e pelo bom encaminhamento dos dossiers uns mais duros que outros.
Cá do Nho Eugénio, onde, quinzenalmente, tomo aquela coisa,
espero viver longamente, para um dia, me encontrar com UCS numa mesinha, confirmando-me
a sua satisfação em ter cumprido o seu papel como deve ser e ter passado com
dignidade a pasta de Primeiro-ministro ao seu sucessor.
Todavia, peço que me entendam, por favor... Ulisses Correia
e Silva há um só, a quem dou um palmo de confiança, mas não acredito de modo
nenhum no MpD.
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