Segundo a crença popular Baga-Baga consegue mergulhar nos
sete palmos debaixo da terra para devorar finados. Insecto simpático, tipo
formigão, que vive exilado em tocas, só sai pressentindo o tempo de
azágua.
Afirma-se que o bicho foi trazido da Guiné com a importação
de madeira, ou nas raízes das plantas vindas do continente africano. Com a
chegada desses seres às ilhas, ocorreram transformações, que ditaram novos rumos
para a sua vida e mesmo para a sua saúde, ganhando o nome de Baga-Baga.
O seu
desaparecimento é uma espécie de exílio para depois aparecer em finais de
Julho, experimentando deslocações em busca do armazenamento de comida ou
procurar outros abrigos longe da invasão da água. A tradição conota a sua
aparição com mudança do tempo, isto é, com a aproximação da azágua, o mesmo que
dizer período de sementeira, provação que todos os anos alimenta a esperança
dos camponeses. Aparição de Baga-Baga é chuva próxima; dizia o meu avô. Em
criança, na Vila de Assomada, assistíamos a deslocação destes seres em enormes filas
para sítios diversos. Na praça central da vila saíam das rachas do cimentado e vagueavam
o dia todo, escondendo-se à noitinha. Amáveis, humildes e inteligentes, mas
ferozes se atacados.
Certa vez uma Baga-Baga curiosa entrou nos calções de um
menino sentado na borda do canteiro, sentindo-se ela pressionada, ferrou
dentada justamente no pirilau do garoto. Os gritos do menino puseram os colegas
em pânico, seguindo caminhos diferentes. Momentos depois, tiveram de regressar
ao local para socorrer o miúdo que se despira completamente. Primeiro, acreditaram
que era coisa do sujo e levaram a vítima para a igreja, mesmo à frente da praça.
Ali botaram água benta na cabeça do menino, enquanto o veneno da Baga-Baga
actuava no corpinho dele. O garoto queixava-se de muitas dores no baixo-ventre.
Instantes depois o bibichinho da vítima avolumou-se de tal ordem, a comparar uma
bola de rugby em miniatura. Levado para a Farmácia o enfermeiro de serviço
aplicou-lhe o antídoto que, minutos depois, acabou por atenuar as dores e
abaixar o inchaço. Da mesma forma, acreditava-se que esfregar Baga-Baga no seio
de rapariga, ainda na puberdade, fazia-lhe ter seios grandes e dava mulher
depressa.
Da farmácia saía o menino curado e dava entrada uma menina picada no
seio por este ser amável e humilde exilado de azágua.
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