Para os campinos, às quinze e trinta horas começa sol de
macaco ou seja o atenuar do queimor da hóstia de fogo, vigiante da terra. A
esta hora muita gente está pegada na soneca da tarde. Instalado na cadeira de
baloiço, sem tirar os pés do chão a compassar sem esforço, ele movia-se na
posição usual a cogitar. Era uma habituação. A janela da sala deixava entrar muita luz e frescura a essa hora.
Tomado pelo fardo do silêncio,
imobilizado, subitamente, aproximou-se dele uma janela convidante. Pensativo,
olhava-a de frente, movendo as pálpebras devagar, lembrando o alar de uma
borboleta grávida, a refrescar no jardim. Viva era a janela. Mudava de formato.
De rectangular reconfigurava-se em polígonos estranhos cruzados por seres afeados
e velozes. Também desformada era paisagem sob restos do céu, segurando nuvens púrpura,
da cor da tintura do abissal, onde fundeiam os suicidas.
Levantou-se, aproximou-se
dela, assomou a cara e um sopro o atirou aba fora, desaparecendo no entranhado.
Esperou pelo choque brutal, mas não. Flutuava. Flutuava como ondas de telefonia.
Acabou sentado num salão de frouxas luzes. Perto dele uma tabuleta dizia: Vale
nada viver se nada diz a morte. Mais além, outra tabuleta a balouçar trazia:
Benvindo os suicidas. E na tarja gigante vinha a inscrição: A morte augura o
desviver, sendo o suicídio festa á perpetuação do viver da morte.
O salão
tinha-se transformado num denso bosque. Manteve-se por lá no meio de exalações,
pomadas e perfurações. Nada se mexia e nada acontecia. Imperava o sossego. Repentino
foi o som da orquestra que vinha não se sabia de onde. O tempo não passava por
mais coisas aconteciam. Apagaram-se as luzes. As dezoito pancadas do velho relógio
de parede fê-lo erguer o pescoço pendido sobre o peito, fazia tempo. Despertou,
pôs-se de pé e acercou-se da janela, deixando a cadeira de baloiço a oscilar. Assomou para
apreciar o movimento que lá fora havia no momento. Foi excitante regressar do profundo em que se tinha mergulhado enquanto o sol descia para a tardinha.
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