Sorridente, simpática
era a senhora de fácil amizade. Após troca de olhares ofereceu-me a face para um beijo. Viva
era a alegria que floria no semblante desta pianista, possuidora de uma das
melhores mãos esquerda no piano em Cabo Verde.
Antes, tinha conhecido Djosa
Marques e Chico Serra, dois grandes da nossa música, ambos possuidores de uma
belíssima mão esquerda ao piano de cauda, no acompanhamento da morna, da coladeira e de outros
géneros musicais. Djosa Marques era tido como o inventor da percussão nos teclados no acompanhamento da morna e da coladeira. Hubertona que tocou com ele trouxe para o violão a experiencia, criando uma forma de companhar a morna ao violão, em vigor até hoje.
Quem como Tututa fez tanto de bom, se empenhou e se dedicou com muito talento, a morte não é sentida, antes vivenciada. A sua ausência é o ascender de um espírito fecundo no firmamento, onde se perfilam os grandes e na luz imortalizar-se. Os grandes nunca morrem. É um reconhecimento antigo. Porque aquilo
que eles fizeram e por aquilo que representam na história e no percurso do seu povo e
da sua terra merecem honras e gratas recordações.
Tututa, tal como o
irmão Tchuff, foram demais vibrantes interpretes da música e da cultura
popular nacional, como tal, tornaram-se expoentes e exemplos de como deve-se encarar e
aproveitar o que a história nos legou e o que humanidade criou para servir os
povos. Os dois, filhos de outro grande e talentoso compositor mindelense
António Tchitcho, que também marcou a sua época, apostados na recriação de motivos e temas significativos, deixaram o
suficiente para significarem como entidades de respeito e da nossa eterna
admiração. Piano é um instrumento demais
exigente, sobretudo para quem cuidava de si e dos filhos, num período dificil da vida das ilhas, porém, a sinfonista Tututa jamais deixou de se aplicar, acabando por dominar com mestria o instrumento da sua predilecção.
Tututa tinha a consciência
de que o seu instrumento de trabalho era impossível ser transportado ao colo para
os lugares onde tocava, como acontece com os de corda, a sua casa era a oficina
onde elaborava a música, chamando para a acompanhar amigos e familiares músicos. O teclado do seu piano assemelhava-se a um pomar onde
semeava a virtuosidade das suas emoções. O preto e o branco na tábua de notas
onde se entretinha e compunha canções, muitas delas perenes, pareciam degraus de
uma vida cheia de sonhos, transfigurada na agilidade dos seus dedos e no permanente sorriso dos seus anos de vida.
Tututa era uma rica senhora, uma valiosa mulher, valerosa e autêntica, inspiradora de todas as Donas Ana - orgulho de nôs vida - cito M. de Novas.
Tututa era uma rica senhora, uma valiosa mulher, valerosa e autêntica, inspiradora de todas as Donas Ana - orgulho de nôs vida - cito M. de Novas.
Que o assento
fosforescente do universo receba e tenha na sua luminosidade esta crioula que deixa saudades eternas. Gloria à alma e à obra de Tututa, dilecta filha destas ilhas.
Sem comentários:
Enviar um comentário