Fogo d’
África é um espaço de convívio e música. Todos os fins-de-semana Nhô Nani ao
violino e a banda de suporte estão ali à nossa espera. Vir à Praia sem visitar
Fogo d’África é o mesmo que ficar no aeroporto de partida. Nho Nani é um músico
entusiasta que todos apreciam. Empenha-se bem com o arco na mão. Tem de se ter ouvidos
de bronze para aguentar os decibéis que se cruzam dentro do espaço.
Eram três
horas da manhã quando cheguei à casa. Como de costume dirigi-me ao frigorífico,
trouxe a garrafa de água fresca, pus água na minha caneca inox, fui para a janela tomar uns goles, olhar o céu a conferir a posição das estrelas.
Praia
tem mau céu estrelado por causa do reflexo das luzes da cidade. O melhor céu
estrelado que já vi na vida foi em Assomada, em Achada Riba. Achada Riba de
antigamente. Recentemente foi na ilha Brava, em Senhora do Monte. Fascina-me o
céu estrelado. Olho a pensar nas estrelas que não se cansam de cavar o buraco onde
moram, deixando ficar de fora o rabinho de luz a abanar, semelhando a artimanha
das feiticeiras.
Olhava para um ponto luminoso. Talvez fosse um planeta. Não cintilava.
Mas a minha vista cansada dava a entender que o fazia. Da minha varanda o ceu nocturno não é tão mau.
De
repente uma sombra com ar enigmático pôs-se a meu lado. Começou a murmurar aos
meus ouvidos: Olá! Voltei a cara para o lado. Repetiu: Olá rapaz! O bafo era de
fumador. Fumador que bebeu instantes atrás. À mistura o cheiro de perfume caro,
parecido com Madame Dior. Não tinha certeza. Era de perfume de mulher. Quem és tu? Perguntei. Vim porque apaixonei-me por
ti. Murmurou atras de mim. Porra! Eu! Quem és tu! O que queres de mim? Ela: Já não tenho idade para muitas conversas. Senti loucamente atraída por ti. Vais dar-me o prazer
de te tocar e de te beijar. Não tenhas medo de mim. Rodei trezentos e sessenta graus para me certificar.
Um
calafrio tomou-me conta da espinha a querer tirar-me forças. Ao sentir o aproximar
do seu rosto ao meu, defendi com a mão que segurava a caneca de água, acertando
na parede ao lado, entornando o resto da água no chão. Afastei-me da janela
por uns momentos. Voltei a ficar no mesmo lugar e na mesma posição. Desta vez a olhar
para baixo. Resultado, percebi que do chão vinha um cheiro a álcool. Whisky, provavelmente.
Para comprovar, trouxe a caixa de fósforo. Aproximei o lume do derrame, e-e-e puufffff, um fogo azulado a cheirar nada. Dai, senti um toque no ombro, virei, e soou um vuuuoooop. Aconteceu
como se o vácuo tivesse sugado qualquer coisa dali. Até hoje fiquei
por entender o que na realidade terá passado comigo nessa madrugada.
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