terça-feira, 14 de junho de 2016

Do Crioulo ao Português - Um Poema, Uma Confissão




Poema Santa Catarina em Konfison na Finata, traduzido para o português. 
Experiencia em curso para uma publicação bilíngue...

SANTA CATARINA

Monte rocha colina achada terreiro
Batuque acordeão corneta tambor finason
Grogue um grito acudido no fim do mundo
Um bezerro manso um novilho entoado
Um açúcar uma calda no cocho recolhida
Uma ribeira grande que me corre no peito

Santa Catarina,
Hoje a tua lua não é olho desvairado no céu
Em busca de Figueira das Naus ou Entre Picos de Reda
Não é vida vazia no poial de Donana
Hoje és alfabeto letrado
Em Achada Riba ou em Achada Igreja
És o apetecido em parco quinhão
Olhos almejados e boca cobiçada
Trejeito fascinado num corpo singelo

Santa Catarina,
Eis-nos todos hasteados nas tuas colinas
Eis-nos enredados na sombra da tua bonança
Eis-nos juntos e firmes como um só levantados
Hoje no teu calendário palpitando um rumo

Santa Catarina,
Nem distante nem perto da nossa saudade
Não podes ser miragem amarrada
Marcada e desmarcada no nosso sentido
Nem cansada canseira de um mesmo credo
De um querer que não se desfaz duma só vez

Por mais que o capricho é o esteirado
Que ampara a teimosia do Homem
O que tem de ser… terá de ser.. e será
Mas, seja como for!
Talvez o tempo dos teus dias maiores
Se erga ainda nos olhos puros dos teus mocinhos

Ah! Minha Santa Catarina
Santo limiar da minha fé desconfiada
Nem a mecha na mão da agnosia
Será lucerna da tua aurora enlutada
No teu chão crucificado quero ser tua mortalha

Santa Catarina
Tu és o chão original calcado pelo tempo
A tua crença persegue o espírito do Homem
Estribado e assente na força da sua marcha
Aleitado na tua estação das chuvas correntes
Sob o desafio fogoso da rotação do mundo
Impondo as extravagâncias da globalização.

Santa Catarina
Gulilança Malagueta Monte Brianda
Palha Carga Pico d’António… é agulha
É agulha que costura a condição da manhã
P’ra que o sol ainda se levante na Cruz dos Picos
No crioulo cru de Manuel Braga Tavares.

Eu… sou o teu Credo
De aprumo e rosto limpo no cimo das tuas colinas
De olhos duros figurados na almanjarra do tempo

Querer-te…é crer-te com todo o ser
Não só nos sentidos ou urdindo em falsidade
Tu és a doce cantiga da levada cantante
Em toda a dimensão da travessia das tuas ribeiras
À tua ilharga sou a lantana na tua várzea
O sorgo bravo escorado no teu pedregal

O teu tempo…
É agora o tempo dos teus mocinhos
Que firmes se levantam chão da cidade
No brio da sua mocidade répando
No colo do batuque das mulheres que porfiam
De vozes em coro repicado na cantiga da terra
Com tuas histórias redivivas nos palcos da OTACA
Com teu acordeão ferrado no peito de Belu Freire
Ou no compasso repicado de Lopi Netu
Com a dança d’África nos palcos de Netos de Cabral
Que ainda nos move viçosa em nosso intento.

Ver confirmado é que é pão da vontade
Mas promessa enganosa é fome do espírito
e agravo da consciência

Santa Catarina
Tu és o brio da terra lavrando-me na alma
Tu és o quilate de ouro lavrado na minha memória
Tu és o incenso no aroma vivo do caminho novo
Tu és o grito brandido do filho da terra na colina
Tu és o prego de frechal no sossego da minha morte
Santa Catarina


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