Escureceu e os violões tinham-se
calado no Pôr do Sol. Era um domingo de bom tempo. Música e recordar o passado
fizeram parte do passatempo. Tudo passou depressa. Custa partir quando o ambiente é bom.
Eram
vinte horas e poucos minutos quando o automóvel seguia calmamente no piso irregular da estrada. As
margens escondiam-se na escuridão com o avanço dos faróis. Subitamente relampejou, depois trovejou. O espanto
parou o movimento. Forte foi a pancada. Acidente. Parecia o já visto. Um estrondo perseguindo
a jornada. Visualidades! Nunca se sabe. Qualquer viagem contém receios. Aprontam
sustos. Neste caso foi um susto valente. Aconteceu o que
tinha de acontecer. Só não calhou o que devia calhar. O fim esteve, mas sumiu
num ápice no negrume aterrador. Vindo do breu, uma voz segredou á janela: Ele não
é daqui. Ele é estrangeiro. Vamos embora. Deixa-o ficar. Gracejaram corvos e lagartos.
Uma voz na escuridão alertou: não, ele é mesmo daqui. Apesar de tudo, as peças
do esqueleto estavam intactas, mas de coração gelado. Ao lado, o outro que tudo
viu e tudo assistiu, resfolgava frígido. Da lista dos condenados ao eterno descanso
não constava os esqueletos em viagem. Morreu a morte de angústia e viveu a vida de
alívio. Era o mês de Maio. Mês do não enterrar, mas sim de florescer. Tempo do amanhecer e do pôr
do sol tropical. Tempo de mudança de estação, de viagens e de lazer. Mês das
acácias rubras e da loucura dos pardais e grilos no pátio a inaugurar a
tropicalização do calendário. Viver é calar dores e morrer é silenciar amargores.
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