quarta-feira, 15 de junho de 2016

Junho Mês de Exames



Parte final do conto - Viva a Quarta Classe - em Cântico às Tradições - livro publicado.

(...)
Por volta do meio-dia, todos estavam de pé reunidos em frente à suposta janela de onde seriam lidos os resultados e cada um imaginava como ia ser a classificação. Alguns pais vindos em seus afazeres à Vila aproveitaram para assistir ao acto que parecia não ter hora certa. O sol ia alto e o calor apertava. De súbito, à janela, uma voz pediu a atenção dos presentes e a curiosidade de todos parecia ter ficado ancorada naquele mar de silêncio que separava a assistência da posição onde se encontrava a sorridente professora Dona Irene. A sua melodiosa voz e a clareza com que lia os poucos parágrafos da acta rasgava o calor que se fazia sentir no local caindo como sopro de ar fresco, aliviando os presentes de navegar na impaciência e no desejo de querem saber como é que cada aluno tinha ficado. 
De cara levantada e sorriso nos lábios a professora leu a última parte do documento:
- E assim. O júri decidiu pelos seguintes resultados: 
Alcides Alberto Barbosa........…....  Distinto
Amélia Mendes Tavares.......……..  Distinta
Cristina Sanches Alvarenga...……. Distinta             
José Luís Lopes Correia........…….. Distinto
Os restantes alunos todos aprovados. Assinado, o júri.
O Flávio não se conteve. O grito dele fez-se ouvir no meio de tantos e tantos colegas. Passei! Passei!  Viva quel bolo. Viva quel vinho. Viva a quarta classe. As vivas vinham da profundeza da sua alma. É que conseguir a quarta classe - segundo grau de instrução primária – era mais do que obter o diploma. Era garantir um emprego razoável, mas, sobretudo, era poder escrever uma carta ou assinar a rogo dos que não sabiam ler e escrever, livrando-os do melindroso dedo na tinta. No meio de pulos e gritos, os meninos insistiam em querer ver os seus professores para os saudar, invadindo a escadaria da porta principal sitiando os professores, pulando euforicamente e gritando sem parar. 
O professor, Ambrósio, escolheu sair por outra porta, para não ter de furar a barricada dessa gente exaltada que só sabia gritar de contente. Ele saíra calado, sem se apresentar aos seus alunos. Registou-se um curto silêncio enquanto ele seguia sem parar.

Os restantes professores que se preparavam para se despedir do ano lectivo foram assaltados pelos finalistas em sinal de saudação e de agradecimento pelos resultados alcançados. Dali a barulhada invadiu as ruas da vila. Gritavam aqueles que tinham sido preparados para continuar os estudos ou para encarar o futuro melhor informados e mais instruídos. A meninada não parava de gritar: Viva quel bolo! Viva quel vinho! Viva a quarta classe. 

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RAPIZIUS

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