Parte final do conto - Viva a Quarta Classe - em Cântico às Tradições - livro publicado.
(...)
Por volta do meio-dia, todos estavam de pé reunidos em
frente à suposta janela de onde seriam lidos os resultados e cada um imaginava
como ia ser a classificação. Alguns pais vindos em seus afazeres à Vila
aproveitaram para assistir ao acto que parecia não ter hora certa. O sol ia alto
e o calor apertava. De súbito, à janela, uma voz pediu a atenção dos
presentes e a curiosidade de todos parecia ter ficado ancorada naquele mar de
silêncio que separava a assistência da posição onde se encontrava a sorridente
professora Dona Irene. A sua melodiosa voz e a clareza com que lia os poucos
parágrafos da acta rasgava o calor que se fazia sentir no local caindo como
sopro de ar fresco, aliviando os presentes de navegar na impaciência e no desejo
de querem saber como é que cada aluno tinha ficado.
De cara levantada e sorriso
nos lábios a professora leu a última parte do documento:
- E assim. O júri decidiu pelos seguintes resultados:
Alcides Alberto Barbosa........….... Distinto
Amélia Mendes Tavares.......…….. Distinta
Cristina Sanches Alvarenga...……. Distinta
José Luís Lopes Correia........…….. Distinto
Os restantes alunos todos aprovados. Assinado, o júri.
O Flávio não se conteve. O grito dele fez-se ouvir no meio
de tantos e tantos colegas. Passei! Passei!
Viva quel bolo. Viva quel vinho. Viva a quarta classe. As vivas vinham
da profundeza da sua alma. É que conseguir a quarta classe - segundo grau de
instrução primária – era mais do que obter o diploma. Era garantir um emprego
razoável, mas, sobretudo, era poder escrever uma carta ou assinar a rogo dos
que não sabiam ler e escrever, livrando-os do melindroso dedo na tinta. No meio
de pulos e gritos, os meninos insistiam em querer ver os seus professores para
os saudar, invadindo a escadaria da porta principal sitiando os professores, pulando
euforicamente e gritando sem parar.
O professor, Ambrósio, escolheu sair por
outra porta, para não ter de furar a barricada dessa gente exaltada que só
sabia gritar de contente. Ele saíra calado, sem se apresentar aos seus alunos.
Registou-se um curto silêncio enquanto ele seguia sem parar.
Os restantes professores que se preparavam para se despedir
do ano lectivo foram assaltados pelos finalistas em sinal de saudação e de
agradecimento pelos resultados alcançados. Dali a barulhada invadiu as ruas da
vila. Gritavam aqueles que tinham sido preparados para continuar os estudos ou
para encarar o futuro melhor informados e mais instruídos. A meninada não
parava de gritar: Viva quel bolo! Viva quel vinho! Viva a quarta classe.
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