O HINO
Canta, meu irmão
Que a liberdade é hino e o homem a certeza.
Com dignidade, enterra a semente no pó da ilha nua;
No despenhadeiro da vida a esperança é do tamanho do mar que nos abraça, sentinela de mares e ventos.
Perseverante entre estrelas e o Atlântico entoa o cântico da liberdade.
Canta, irmão
Canta, meu irmão que a liberdade é hino e o homem a certeza!”
Esta é a letra do Hino Nacional da Republica de Cabo
Verde, portanto, o cântico da soberania deste povo e desta nação. É letra
de um Hino. É letra que não devia ser nímia nem abreviada quanto o é. É uma
letra de rotura. É uma letra que exclui e omite a chama da razão sentinte da nação,
leia-se, nação lutadora e ganhadora, nação de história e de cultura. A ideia
presente no hino é apenas a de exortar o irmão, (vaga fraternidade) para cantar
(festejar) porque a liberdade é hino e homem a certeza, como se a liberdade tivesse
sido achada ou dada e nunca conquistada a pulso, como se a liberdade não
tivesse assento no braseiro da luta secular do povo das ilhas para a conquista
da sua soberania e liberdade cidadã.
A letra do hino (feito à pressa) é de claro rompimento com a
história da luta de libertação nacional, é de claro apagamento de uma realidade,
não se escudando e nem trespassando a luta do povo das ilhas pela sua
emancipação, pela independência e soberania nacional. É um texto que
não evoca o sentimento pátrio, ficando-se pelo apelo ao irmão para cantar
a liberdade, porque a liberdade é hino e o homem a certeza (de quê e para quê?).
O irmão que se pede para cantar (festejar), não pressupõe
fraternidade e solidariedade; o homem a que se diz homem-certeza, é um ser peregrino
e jamais o que verteu suor e sangue, que deu sua vida à luta pela independência.
É, portanto, um texto sem manifesto patriotismo, sem apelo ao âmago do homem
cabo-verdiano para construir o presente, nem para conquistar o futuro. Há
canções espalhadas pelas ilhas de grande valor simbólico e de grande sentimento
patriótico.
No desejo de se conferir dignidade ao trabalho e ao progresso,
(enterra a semente no pó da ilha nua) mostra-se o despenhadeiro da vida, o
mesmo que “precipício da vida” como residência da esperança que é do tamanho do
mar que nos abraça. Para depois, se referir “entre estrelas e o Atlântico” espaço
e lugar de ninguém, para onde o irmão entoa o cântico da liberdade com os pés
na ilha nua, (nua despida de vida) como se o passado de revoltas, de protestos,
de abandono, de fomes, de mortes, de perseguição, de prisões acontecesse na
ilha nua, despovoada de homens e de mulheres; como se a luta de libertação das
ilhas não tivesse começos, resistências, momentos de sacrifício e de glória, como
se o caminho de novos caminhos não tivesse fundamento na cultura e na
história das ilhas, como se a construção da liberdade de criar liberdades brotou
com o hino cujo apelo maior é de o homem-irmão cantar o despenhadeiro da vida e
a convocar estrelas e o Atlântico a testemunharem a peregrinação de um povo pelas
incertezas do mundo.
Doce guerra de Antero Simas, Torrão de meu de Nhelas Spencer
e 5 de Julho de Manuel de Novas entre outras significativas canções às ilhas
são hinos à imortalidade da alma Verdiana.
Texto de 30.9.2010
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