DIVAGAÇÕES
Estou convicto de que os galos nos querem roubar a verdade
para nos impingir corvos por frangos, estou convencido do ajuste de contas
entre o mar e o vento obrigados até a raiz dos tomates da Maria, seja santa,
seja prostituta, seja praia, seja calhau, seja cristã, seja pagã, todos à
beira mar plantados, mar de betão, mar de craques aldrabões de coqueiros
inexistentes, de anfíbios a divagar buscando pousos sensatos, mar de remos
partidos e botes afundados, mar do tempo de triste memória, mar roubado, mar de
protagonistas e capitães de mar e costa, mar de tubarões desempregados e
tainhas em stand by, mar engajado em ser lagoa europeia, mar de revisionistas e
de rabidantes, mar de despesas, de injustiças, de mentiras, de promessas, de
falamentos, mar vazio de conteúdo, enfim mar de cagâ.
Oh! Tanto mar para ver e vencer. Algos e algas não fiquem,
pois, à espera que eu me lamente do mar merecido, não contem comigo para a
impreterível denúncia nem tão pouco para manifestações, reivindicações e novas
formas de luta.
Para já, o mar tem cara de festa, de música de
entretenimento, tem cara de amigo, tem cara de caminhos afundados na esperança
residente no despenhadeiro da vida, todas estas caras juntas dariam para Achada
Mato e Ponta d’Água rechearem-se de arranha-céus, daria para a beira mar das
ilhas beneficiarem do banho dos turistas, daria para o regresso definitivo da
diáspora, daria, ainda, para solucionar a terra e as gentes.
Há a necessidade de mostrar que sem o espírito deste mar
éramos todos calhaus pálidos sem liberdade de pensar, de cantar, de falar, de
escrever, de sair, ir e vir, gozar a vida, incluindo saber o que querer e o que
querer ser e ter. Virá a indústria de criar a felicidade para todos. Se
demorar, não me perguntem.
Porque haveria eu de me sentir culpado da não
felicidade prometida?
Não plantei os outdoors, não animei a festa, não contratei
artistas, não ajuntei gente, não menti e nem prometi resolver nada.
Estou de bem comigo mesmo. Sou igual a centenas de olhares
diante do mar à espera do sul da Europa desembarcar.
Nem desertor nem herói. Apenas, divagador.
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