Santa Cruz, 24 de Julho de 2015,
10H45. Acabo de chegar a cidade de Pedra Badejo. Olho o telemovel. É minha
mulher. “ Olha, a notícia e desagradável. Acaba de morrer o teu amigo, Dr.
Corsino Fortes”. Falei quase nada. Dei um até logo. Lá mesmo já se sabia do
falecimento do poeta. Helder disse: “Morreu Corsino Fortes. Bom homem”. Na
esplanada a rádio anunciava a morte do capitão vestido de branco. Contudo, Santa
Cruz preparava-se para celebrar o dia do município. Há muita agitação. Muito
entusiasmo na preparacao dos festejos. Precisamente, hoje, a Câmara Municipal vai
homenagear figuras que desempenharam um papel de relevo na edificacao do
concelho em varios dominios da vida pública, social e politica, personalidades
cujo desempenho prestigiaram o bom nome do Concelho. Entre os filhos do concelho
agraciados pela Assembleia Municipal, em acto público reunido para o feito, estavam
antigos deputados, delegados do Governo, médicos, proprietários, professores,
agricultores, agentes sanitários, agentes sociais e culturais, todos merecedores
de menção elogiosa pelo papel desempenhado no passado e no presente, gesto
nobre da Camara Municipal de agradecimento e de reconhecimento, face de uma
nova feição conferida ao interior de Santiago.
O acto contou com sessão musical protagonizado
pelo compositor e músico Quim de Santiago sob a directoria musical de Helder
Lima, professor de música neste concelho. Várias actividades constam das celebrações,
sendo o festival da Areia Grande um dos pontos altos. Estas festas são sempre
momentos de exaltacao das realizacoes conseguidas, de convio, de
confraternizacao entre os locais e os visitantes, de movimentação dos pequenos
negócios, de música, enfim, de celebração da memória. Santa Cruz em festa contrasta
o ambiente de pesar que vive Mindelo, círculo dos amigos do poeta, o inclinar
da nação inteira que reconhece em Corsino Fortes, o homem de fino trato, diplomata
elegante, combatente da liberdade e cidadão singelo e amante do amor.
Inclinado sobre a folha, revivia alguns momentos passados com o poeta em sua casa na Achada de Santo António. Ele
era espirita. Partilhávamos do crer na elevação do espírito. “ Eu não falo da
morte. Prefiro falar da vida. Ela é como um livro sem a última página.” Nesse dia
falava-lhe do livro que estava para sair – Gaveta Branca – e convidá-lo para apresentador
da obra. O olhar sereno, os gestos medidos, palavras de estímulo, o intenso
amor ao próximo, a fertilidade das suas iniciativas, faziam dele a própria esfinge
de luz inscrita na supernal radiação cósmica. Eram luz o sorriso e fragrância as
suas considerações. Pela tarde, o Hino Nacional pela Banda Militar, Parada e Bandeira
a Meia Haste, o minuto de silêncio solicitado pelo Presidente da Assembleia Municipal,
após citar o simbólico eco: “Não há fonte que não beba da fronte deste homem”. Assim
o poeta, meu irmão, meu amigo, Corsino Fortes, tomou assento nas celebrações do
dia do Município de Santa Cruz, de Nho Santiago Maior, celeiro da ilha e altar de
– A Cabeça Calva de Deus – fundão de todos os cumes do mundo.
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