Txabeta em Estado de Alerta
Amputado de um pé, sem poder mexer, sem reconhecer direito
um amigo, só na maior parte do dia, vigiado pela mulher e pela vizinha Mery que
cuida da higiene dele, de-longe-em-longe uma visitinha de amigos de outras
paragens, em detrimento dos de São Domingos.
O ditado bíblico é vero e severo
ao mencionar que ninguém é profeta na sua terra. Denti d'Oro é grande por conta
própria. Dispensa altares. Ontem vim de lá triste e chocado. Antoni Denti d’Oro está
ali, encolhido nos seus 91 anos de idade, por conta de um silêncio trágico e
perturbador. Ele reconheceu-me.
Os olhos dele faiscavam como lamparinas nos
terreiros onde improvisava refrão do batuko, onde exaltava as máximas populares
no seu invulgar finason, o brilho baço dos seus olhos pareciam de alegria,
daquela que denuncia dever cumprido, da que consuma o reconhecimento por parte
de tantos quantos o admira, o visita, o apoia e o dá o merecido valor de um
santiaguense destacado, que tem nome e figura espalhados pelo mundo.
O momento
critica em que esta lenda do Batuko e do Finason, em que esta figura
carismática de São Domingos, em que este talentoso mestre cursado na escola da
vida atravessa, põe a Txabeta em Estado de Alerta, põe todas as formações do
batuko em stand by, põe todos os amigos e admiradores em estado de vigilância,
põe São Domingos, em particular, em cautela permanente, põe santiago em posição
de guarda.
Quando morre um grande, tardiamente, levantam-se vozes de
todos os tipos, incluindo a dos familiares, a lamentar dores que não sentiu,
outras em elogios fúnebres a enaltecer por umas horas e alguns minutos os
feitos, as obras, o valor do seu papel social e outras ficções que os figurões delineiam
no papel para empolgar os discursos e alçar o colarinho.
No entanto, o grande,
em estado de padecimento, não tem dos mesmos um recado, um caldo, um sabonete,
um olhar, uns minutos de visita, por falta de interesse e ignorância, mas nunca
por lhes faltar tempo. Antóni Denti d’Oru precisa, neste momento, da presença e do
olhar amigo mais do que qualquer outra dádiva. Saber dele tem importância e dimensão
humana, tem a grandeza da sua obra. Sei que dos Estados Unidos, de Portugal, da
França, da Holanda, amigos nacionais e estrangeiros ligam a saber do seu estado
de saúde. A Mery atende pelo telefone 996 16 54.
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