A forma trivial como os Rabidantes Culturais vêm
contribuindo para a educação da sociedade, (sociedade juvenil sobretudo) que se
deseja democrática, justa, solidária, instruída, culta e capaz, não passa de
intenções doentias, seguindo o caminho que se está a seguir, sem que no túnel
haja olho de luz no fundo.
Esta-se numa encruzilhada, numa espécie de nó cego numa
corda enrodilhada.
Que fazer numa terra onde discordar do outro e ter opinião
própria é crime social e público?
Pois, opinar a sério é vazar água no binde,
porque vivemos numa democracia de refractários, intolerante e imbecil.
É neste mundo que se forma a nossa mocidade, toda ela, a
todo o tempo.
Os poderes públicos investem, fazem, esbanjam, discursam e
nada fica consolidado. Até parece que apreciamos desaprender para que tudo
fique sobre joelhos e inacabado. Por exemplo: não existe um programa televisivo
consolidado que instruísse e orientasse a sociedade e as diferentes camadas que
a compõe no sentido da sua afirmação intelectual, espiritual e nacional. Salvo
os noticiários, os programas de debates e de entretenimento oferecidos são
prenhes de acasos que o esforço dos discursos não consegue reverter. São acasos
baseados em modismos importados, tics espalhafatosos, comunicação sem arte, palavras
encenadas, portanto sem valor esclarecedor, ficando a percepção devassada por
atitudes e comportamentos comprometedores, sendo gente com canudo e paga pelo
estado para trabalhar com competência e mostrar o caminho.
Muita gente em privado me confessa estar de acordo com o que
eu disse sobre o Programa Tarde Jovem e muitas das opiniões expressas por
escrito nesta rede de intercâmbio de ideias. Muito bem. Mas não têm coragem de
dizer de forma clara o que acham não só deste programa, mas, sim, de vários assuntos
que afectam a nossa sociedade e as pessoas. Poucos dão a cara. Poucos se
manifestam dizendo da sua justiça.
A doença do nha boca ca sta la é cronica e terrível.
Autenticidade não é coisa do caboverdiano. Prefere sentar-se no muro e ver
passar a caravana. Ele é sempre o outro na sua pele, próprio de refractário.
Sei sempre o que dizer, como dizer e quando o fazer. Contudo
há uma juventude por aí, arrogante, por causa duma opinião me graduou de
Velhote do Caralho, Gagá, Obsoleto, Ultrapassado, etc. (leia-se Do you... Papia
Criolo). Essa gente mais não tem de dizer e nem de discutir com alguém.
Respondo, sim. A minha formação não aceita bugigangas, nem plágio, nem copianço
de modas. Não aceita modismos. Não nasci para cuidar de bugigangas. Sou Diabo
irmão de Deus numa só pessoa, para o mal da minha alma, mas, tranquilo e sem
palatal furado. Poucos sabem o que faço e conhecem o meu labor. Nunca gostei de
aparecer. Nasci aparecido da minha mãe. O resto é manchete e mixórdia e não
corro atrás.
Prefiro mil vezes acompanhar os jovens anónimos de Santa
Cruz que cumpriram com sacrifício o ciclo de azágua, que, com o recomeço das
aulas celebraram o dia da cultura, o dia do poeta, com um programa vistoso e
muito animado, todos eles, alunos do Liceu de Santa Cruz que, pelo teatro, pela
dança contemporânea, pela música e pela poesia, demonstram quanta criatividade,
quanto talento, quanto discernimento, puseram sobre o vivenciar das suas gentes
e do seu concelho, servindo de inspiração para legendar a celebração do dia da
cultura, longe das televisões, longe dos jornais, privilégio que a juventude
urbana goza com mais frequência.
Foi sem dúvidas a melhor Tarde Jovem que assisti neste
Outubro prodigioso.
Bem-haja os alunos do Liceu de Santa Cruz, uma palavra de
reconhecimento à Direcção da Escola e a equipa que organizou o evento cultural
e um muito obrigado pela oportunidade da minha participação.
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