AO 12 DE SETEMBRO DIA DA NACIONALIDADE NA GUINÉ E EM CABO VERDE.
Lendo a entrevista publicada no JSN ficou-me na cabeça, não
confusão, não novidades, mas sim contemplação, consequência da decapagem feita
ao processo histórico de libertação nacional da Guiné e Cabo Verde, centralizado
na figura Amílcar Cabral, para, cito: “nos aproximarmos mais dele” e tê-lo na nossa
boca mais vezes.
“”Amílcar Cabral foi
o pai do partido único, ou melhor, foi o mentor político e ideológico da
ditadura que tivemos em Cabo Verde depois da independência. Isto é já um dado
adquirido e indiscutível”.
Por conseguinte, temos pela frente um ditador.
“É do pensamento político de Cabral que saíram as sementes
que permitiram, a 5 de julho de 1975, substituir no nosso país a ditadura
salazarista pela ditadura autóctone, isto é, dos filhos da terra.”
Por conseguinte, o cantado herói do povo gerou as “sementes”
da ditadura autóctone que substituiu o colonialismo.
“Melhor dizendo, dos
manuais cabralistas emerge a arquitectura política que serviu de base para a
implantação do autoritarismo caboverdiano. Cabral foi um teórico de partido
único. Escamoteá-lo é um erro histórico colossal.” Por conseguinte a “arquitectura
política” cabralista é igual àquela do salazarismo. Houve é substituição de uma
coisa por outra.
“Desenhou um Cabo Verde dirigido por um único partido. Por
isso, trazê-lo hoje descuidadamente a Cabo Verde, um país democrático, requer
muitos cuidados e tamanha ponderação.”
Por conseguinte Cabral, herói do povo, devia ser banido
juntamente com a bandeira que idealizou logo após o 13 de Janeiro.
Então resta-me perguntar:
Que Cabral trazer para mais perto de nós?
O pai da libertação de Cabo Verde ou o pai da ditadura em
Cabo Verde?
Mas foram os esquerdistas radicais de ontem formados nas
escolas da ditadura de partidos revolucionários da europa, militantes do MRPP e
da IV Internacional, Trokskistas, Maoístas, Comunistas, arquitectos do
movimento operário crioulo, mentores da reforma agrária, agentes do saneamento na
função pública e dos informadores da PIDE/DGS, compositores de baladas
revolucionárias assentes no poder revolucionário dos trabalhadores contra o
imperialismo e o capitalismo, os da bandeira vermelha de foice e martelo, todos
eles militantes ferrenhos do partido único e altos dirigentes da ditadura em
cabo Verde.
São eles, os saídos pelas portas traseiras do templo do
centralismo democrático, que, hoje, viraram anti tiranos de primeira linha e
democratas do grande hino á liberdade, quando ontem eram do planeta vermelho e
nunca do azul d e hoje. Interessante. Sempre é bem-aventurado os arrependidos. Pois,
não surpreende a escola da democracia nacional revolucionária, derreter-se em DEMOCRACIA
pluralista, hoje, vigorando, contrapondo a escola da ditadura do partido único forjado
por Amílcar Cabral, seguido pelos seus companheiros.
Cada vez mais entendo que em Cabo Verde há um Portugal
especial. Tipo região autónoma, também, especial, onde boa parte das suas
gentes vive no continente e a maioria nas ilhas, e dentro desta maioria das
ilhas uma larga franja tem dupla nacionalidade, portanto, dupla adequação e duplo
convívio.
Ocorreu-me o poeta Gabriel Mariano na morna…… navio di pedra
ta busca rumo sem pode atcahal na se lugar… povu sangrado tchora quetinho,
tchora bu sina, tchora maguado.
K. Barboza