quinta-feira, 30 de agosto de 2018

NO ADEUS AGOSTO





Num Adeus a Agosto

Senti música
Em gotas de chuva
Múltiplos ritmos  
Caindo dos beirais
Sonidos que dançam
Corações murchos
Minha rua
Ensopou-se de repente
De esférulas líquidas
Vindas do espaço
Do vidro baço
Olho o Pico d’António
Nuvens cinza planam
Olho o pátio
Páginas verdes das acácias
Decoram
Poemas da estiagem
Olho a Rua Poeta Mário Fonseca
Correm rios marrom
Cara-abaixo na corrente
Num adeus a Agosto
Duma azágua funesta


quarta-feira, 29 de agosto de 2018

HARMATÃO





É o Harmatão

Secura
Piso lento
Suplicio
Sacrifício
Tempo violento
Malevolência
Inclemência
Céu
Desarmado
Assombração
Secação
Estiagem
Fantasma
Fome
Olhos
Estáticos
Morte lenta
Campos
Moribundos
Espaços
Vagabundos
Lugares
Desolados
Olhares
Pensares
Enxadas
Dormentes
É o harmatão

sábado, 25 de agosto de 2018

RAPIZIUS




Aqui fala-se tanto de artistas e de amantes da música até de sucessos e de carreiras de uns tantos que jamais saíram do prato da gemada de got de Nho Mané Jon...

"É preciso aprender a ouvir com a inteligência e escutar além da camada mais superficial da música, percebendo e tomando consciência das relações estruturais e das sensações que a música evoca na gente." - Phillippe Lobo.

Neste momento há Bando de Neon - Traz di Son - de Djinho Barbosa - à procura do roteiro da chuva.

terça-feira, 14 de agosto de 2018

RAPIZIUS





                                                           
                                                                  Restaurado do Recycle.Bin


Apenas vi e li a parte que parecia cheirar a fedegosa. Mas o cujo não sabia que uso banho de eucalipto cheirosa da Serra de malagueta e cana de principal para feeling better. A minha ambição é gozar enquanto puder arpejar o Peregrino. O resto é carriçal da Ribeira de Manhanga. A menos chegasse a meia tigela os escritos desta mão esmaecida pela fraca sapiência, desta cabeça boémia, desta vocação que admira a ingratidão das palavras e seus dissabores. Amo a insubordinação aos brancos da terra e as suas vaidades, pois, a tigela jamais chegou à borda. Viciei em afastar-me. É tronco o que atrevo escrever. Palavrões de um descrente. Ruindade de um não universitário. É tronco os poemas que escrevo. É tela ruim de baixo valor como lua de galos burlões. Assim escrevo e continuarei a escrever, sem membros e sem muletas para andar. Nunca quis ser poeta. Cozinheiro, sim. Jamais seguidor de cânones instituídos. Um impostor do princípio meio e fim e da moral da estória. Talvez anotador de percursos do Peregrino e do Virgula, companheiros bondosos inseparáveis. Mas atenção senhor doutor poeta. Goze da erudição, da rede dos sábios e dos salões coloquiais. Poeta licenciado nunca, jamais. Licença para escrevinhar, tocar e compor, nunca Passaram-se vinte em cima de meio século. Tantos cálices de grogue entornados no prazer, tantas mulheres, tanto escabeche de chicharro degustado à uma da tarde na sala de jantar. Detesto bacalhau. Gostei da alcunha que a fedegosa trazia no cheiro. Sou maior vivo de todos os poetas menores. Sim, senhor poeta profissional. Aqui nas ilhas tudo é velho. Até o escaravelho é velho. Novo, apenas o falo do recém-nascido. Ontem eu contava à minha neta a história que falava de um feiticeiro muito culto que se intitulara Irã. Fazia e acontecia com seus fregueses. Em lugar de fazer o que tinha a fazer, isto é, iludir seus sectários, insistia em apoucar os outros, que, como ele, aldrabavam seus seguidores. Um dia tombou de si mesmo e o mundo do feitiço não estava lá para o amparar. No pódio dos augúrios, sob o tamarindeiro, ficaram os artefactos que interessava ninguém manusear. Valeu o axioma - daninho tem medo di danado.       





RAPIZIUS

                                                                                                         MINHAS AMIZADES COM DIAHO ...