O Sr. Charles da Air France foi o primeiro a visitar-nos,
tendo vindo de São Vicente o DG da ANV – Guilherme Ferreira – para o receber e
negociar interesses entre as partes. No entanto o Presidente da Republica,
Aristides Pereira, havia sido indigitado para falar em nome dos países menos
avançados da Africa na reunião de Paris, presidida por François Miterrand –
Presidente da Republica da França. No final de dois dias de visita o Director
Geral Guilherme Ferreira havia sugerido ao Senhor Charles a passagem do Concorde
pela ilha do Sal para levar o Presidente Aristides Pereira a Paris. Assisti os argumentos
do Guilherme Ferreira insistindo que: “era prestigioso para a Air France o
avião Concorde vir a Cabo Verde e transportar um dos Presidentes mais
respeitados da Africa, porta-voz de vário6s países africanos, sobretudo os da
francofonia de que Cabo Verde também fazia parte. O Senhor Charles foi portador
deste sonho, para o tornar realidade. Poucos dias depois o Guilherme Ferreira
deslocou-se a Dacar, regressando muito esperançado. O assunto foi tratado com
muito sigilo. Na altura usava-se o Telex para se comunicar na aviação comercial.
Eu era o último a sair da agência e o primeiro a entrar para que a comunicação
se mantivesse em sigilo.
Feliz foi o dia em que o longo Telex confirmava o aval da
Sede da Air France em Paris em desviar o Concorde para a Ilha do Sal para
receber o prestigiado passageiro, Presidente Aristides Pereira. Na mesma
semana, o Director Geral Guilherme Ferreira deslocou-se de São Vicente, sede da
Empresa ANV, para a Praia, para dar a excelente noticia ao então Ministro dos
Transportes, Herculano Vieira, que por sua vez a transmitiu ao Presidente
Pereira. Dali em diante, todos os procedimentos foram tidos em conta e o
Presidente da Republica de Cabo Verde, Aristides Maria Pereira, acabou por
viajar da Ilha do Sal com destino a Paris no supersónico Concorde.
Este coroamento de Cabo Verde ficou-se a dever ao amigo
destas ilhas Senhor Charles, Director Comercial da Air France para África
Ocidental e ao dinâmico gestor e diligente trabalhador, Guilherme dos Santos
Ferreira, Director Geral da Agencia Nacional de Viagens, filho de Santo Antão,
natural da Ponta do Sol, companheiro da Casa Madeira e de quarto, padrinho do
meu casamento, alma crioula que a eternidade guarda para sempre.
Carlos Barbosa
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