A FESTA DOS CORVOS
«A ladeira está acima dos interesses mesquinhos dos times políticos».
É o fastidioso grasno a escapulir do céu-do-bico dos corvos, bichos que deviam
tudo fazer na vida menos revirar na política, embora o ditado antigo afirmar
que Ómi rokadu ta koima santxu - o mesmo que dizer - homem sem saída coima o
macaco - santxu animal selvagem.
Fartos de ouvir sair do céu-do-bico dos corvos
a mesma coisa as aves e os animais de casco e de unhas afiadas mais atentos não
compareceram à festa do palanque esverdinhado de verdades helicoidais, tendo ao
centro o corvo chefe de pé sobre o tapete azul, rodeado de amigos fixes e
amigos da coligação corvídea a grasnar em uníssono projectos-projectos em prol
da edificação de uma terra de festa para todos e de animo para todos, de
envolvimento sustentado, de maior crescimento da pandega, de mais aparência e
ostentação, de mais bailes e festivais, de mais ursos, de mais sabura porque
depois de sabe morrer não é nada etc etc. e não podia ficar sem se referir a
terra sem medo de lobos vestidos de cordeiro.
No meio da euforia apareceu o cão
vadio a ladrar alto: fingir que não há heróis é contra-revolução. Em resposta o
rato gritou: não concordo, isto de haver protagonistas é uma farsa. O gato,
sempre desconfiado, lembrou que cutumbembem que nunca dava a cara era o
ideólogo do golpe que levou corvos ao poder. Mentira, piou as aves de rapina e
seus compadres. Então o burro lembrou-se de dizer que república da banana é
para macacos e não para o gado que sempre soube onde pastar. Retorquiu o peru,
havendo pasto não há lugar à manifestação e ocupação de estradas e vias, praças
também. Ouvindo isso, o corvo chefe aplaudiu, mas a cabeça estava na merada onde a família corvídea festejava e
porfiava quem seria o próximo a suportar a festa da colocação dos tapumes
definidores de regiões de pasto e de festejos futuros.
O diabo é que os corvos
nunca se importaram com lavrar a terra, semear boa semente, agiam como se nada
tivesse acontecido. Mas os animais de patas protegidas por unhas mantinham-se
calados a observar tudo, inclusive o pelotão de cutumbembem sempre mergulhado
na terra bufa, mas dando conta de tudo o que se passava na superfície. Porém,
as lagartixas temendo ser apanhadas assomavam apenas para conferir o ambiente.
Opostamente o macaco era quem mais se manifestava. Estava em todo o lado sempre
a macaquear e a convidar ao circo. A galinha, coitada, temia perder os pintos
para as aves de rapina. Os corvos esfaimados faziam de tudo para não deixar os
pardais levar mensagens desgostosas e disseminar notícias de promessas absurdas
e ameaças aos grilos e cigarras que livres cantavam em suas tocas e poleiros. Acabado
de chegar, o porco interferiu, a grande questão é saber o porquê de os corvos
não primarem pelo equilíbrio. Mas a festa já estava no fim. Aí, o corvo chefe
mandou calar o suíno, chamando-o de bisbilhoteiro despropositado, tendo o
tchuko reagido com calma, dizendo, senhor corvo chefe chegou a reparar que eu
nunca tirei os olhos do chão. Sabe porquê? É para não ver a sua cara nem a sua
cor. Os seus grasnos inflamados a incendiar a discórdia pode correr-lhe mal um
dia. Olha, mandar é uma coisa que está sempre no fiel da balança. Escuta, o cão
vadio quis revolucionar o mundo com o seu ladrar acidulante e desvairado nunca
o pôde concretizar. Sabe porquê! Pergunta o gado que esta ali atrás a pastar ou
o cutumbembem que nunca aparece. Já reparou, senhor corvo, que o cavalo anda
sempre distante disso tudo. Fá-lo porque ele sabe que a seriedade da palavra é
chave que forma a vontade. O corvo chefe deu costas e juntou-se aos seus pares
e aconteceu que todos os participantes se reuniram em função da raça a comentar.
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