ASSOMADA ACT – REFLEXÕES PERIÓDICAS
A Associação dos Amigos de Santa Catarina nos moldes para
que foi criado extinguiu-se e é de difícil resgate mesmo mantendo os ideais. Assomada
urbe em metamorfose para ser cidade precisa gerar o que se convencionou chamar
de movimentos cívicos, grupos sociais interventivos, especializados em
disciplinas concretas, inteiramente despartidarizados, mas com objectivos
claros e acções programáticas também claras, para gerarem o grande movimento cidadão
para a cidadania.
É o que se está a desenhar em Santa Cruz, para onde sou
chamado a colaborar com a minha experiencia, a começar pela valorização da
cultura local, seus agentes e as figuras que contribuíram para o bom nome e
pela dignificação do Concelho. Diga-se que esta é uma iniciativa dos jovens,
dos músicos e dos jovens poetas populares. Está a dar-se o tal despertar de
energias “ostracizadas” e torná-las úteis na comunidade, entenda-se por
comunidade os poderes instituídos, as instituições da protecção social, do
ensino, da formação profissional e das artes no geral, incluindo os
agrupamentos cívicos em redor de interesses específicos etc. Criar novas
entidades participadas por cidadãos é o mesmo que abrir corredores de ampliação
do conhecimento do meio envolvente, poder avaliar e conceber soluções.
Para mim, no estado em as coisas estão, basta olharmos para
o afastamento deliberado ou não dos quadros de Santa Catarina, basta avaliar
que participação destes tida ao longos dos anos do municipalismo ou seja da descentralização
da administração pública, em favor dos municípios. A ideia com que fico é de
quase nada. A isto deve-se em parte à quebra da confiança e a degradação da
reserva moral na sociedade em Santa Catarina e particularmente em Assomada,
vítima de abalos ruinosos pelas sucessivas investidas demagógicas e detractoras
do comprometimento e da confiança dos cidadãos mais ousados, daqueles que,
portadores de experiencias outras não foram chamados mesmo havendo diversidade de
opiniões ou pluralidade de ideias.
O sistema da corrupção e do clientelismo político desarmou o
legado de boas práticas, confinando os críticos da situação instalada na
posição de marginais. Em Santa Catarina não há sociedade civil na óptica
correcta do termo. É retórica. Existem grupos e comunidades segregados pela
arrogância e ganancia do poder e jogos de interesses frontais ao do chamado
“jogo democrático”. Os partidos políticos sediados no Conselho devem refundar
os conceitos de militância, de liderança e de prática política, devem apostar
na reconversão dos procedimentos e adequar o seu perfil de modo a acertar para
aceitar as diferentes correntes de opinião, muitas delas sediadas em grupos que
se interligam através das redes sociais e outras formas de convívio e de
diálogo.
Verifica-se que mudou radicalmente os níveis de confiança e
de relacionamento dos cidadãos com os partidos políticos, com as instituições e
inclusivamente com as lideranças, muito por causa de comportamentos, de acções
e medidas avulsas sem correspondência directa nas pessoas, ou porque se tomadas
visaram a satisfação da clientela politica (potenciais votantes) originando deformações,
afastamento e indiferença. No bom dizer da terra ORAS KI BU LAGADJI, LAGADJIDU TA
FICA.
Pensar e dizer SomadaAct é no mínimo um acto ridículo e
doentio. Declarar SomadaAct como evento marcante ou celebrante de teatro é de
todo um acto falido de boas intenções. Tentar trazer do MindelAct, o Act, como
acto vinculativo do teatro em Assomada, mais antigo que o de Mindelo, é para
quem que de cultura e para a cultura nada de nada tem e nem tem para a dar. Abendiçoado
seja OTACA, que engendrou para si e para o teatro de Santa Catarina o que
chamou de Oficina de experimentação e de resgate da história e do espírito das
gentes das ribeiras.
Apagar ou ignorar a memória e a história é tornarmo-nos
turistas vagabundos na nossa própria casa, onde os nossos avós anteviram o
futuro.
kb
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