Bau & Voginha: Passado e Presente em Anthologia Acústica
“Música
fonte poderosa de inteligência espiritual”
A meu ver, os dois músicos, Bau & Voginha, são símbolos vivos nas linhas paralelas da imensa pauta em que se assenta o legado musical das
ilhas, a música criada pelos nossos mestres e que nos acompanha na infinda
viagem da construção da caboverdianidade. Aquela que conserva, transmite valores
e memória, mas também, a que realça a criatividade da alma crioula.
Esta Anthologia Acústica revela-nos momentos que já é história,
mas sempre presente, momentos reflectidos num projecto que nos faz viajar na
riqueza melódica de um tempo em que músicos de renome associados a outros mais recentes,
todos cultores do bom violão caboverdiano, cujos temas reflectem música de
característica nacional, isto é, aquela que constitui o nosso folclore popular, a saber: solos de Luís Rendall, John Rendall e Tazinho, temas populares dos mestres
Morgadinho, Malaquias, Olavo Bilac, Beleza e Fidjinho d’ Chiquinha, seguidos de
temas de Kim Alves, Voginha, Bau, Nhelas Spencer e Betu, criações de linguagem musical continuada, devidamente identificadas na obra Anthologia Acústica, constituindo
esta plêiade de músicos uma verdadeira constelação de “ nomes sonantes que a todo o instante, pelo nosso universo musical nos
tocaram e nos influenciaram pela sua magistralidade suprema do desenvolvimento
de todo potencial humano.“ citando a nota de abertura da obra.
Esta obra vale pela organização, pela escolha dos autores e
temas, pela sua apresentação gráfica, sobretudo, pelos registos sonoros que a
tecnologia de hoje permite ilustrar, facilitando e ajudando os executantes a
abordar os instrumentos de apoio com mestria – o violão caboverdiano – tirando deles
e das máquinas melhor proveito da sonoridade, melhor qualidade, mais gosto e
mais equilíbrio auditivo. Como resultado de um projecto intencional a Anthologia
Acústica traz música assente na leveza de cada momento e convida-nos a penetrar
na perspectiva de um novo amanhecer para as gentes das ilhas e alicia-nos a
servir de ponte entre passado e presente.
Além disso, esta obra musical ajuda-nos a reflectir um pouco
sobre a música caracteristicamente caboverdiana em relação a também produzida
em Cabo Verde e por caboverdianos, actualmente, produtos diferenciados, sendo
uma de valor real e enraizado, e outra episodicamente recreativa alimentada por
amadores da música muito a reboque das modas, sendo estas, a meu ver, criações
gratuitas em virtude de também atitudes gratuitas, representando o pitoresco e
jamais algo emergente do sentir terra-terra do caboverdiano, tocando
superficialmente a sensibilidade do ouvidor alheio atento á procura de algo
cativante e com implicações nos problemas locais do homem e da terra, algo
significante e representativo da maneira de ser e de viver do povo e do pulsar
da sociedade.
Sempre foi a paisagem viva das ilhas, o homem com os seus
hábitos, seus costumes, suas crendices, seus dramas e a própria terra com as
suas vicissitudes e contingências e problemas específicos a influenciar temáticas
tanto na música como na literatura nacional. Uma obra de arte não profana.
Antes pelo contrário ufana a existência de um povo e as suas glórias.
Quando Bau & Voginha dizem: “ Para nós a música simboliza uma fonte poderosa de inteligência
espiritual, que cada ser humano tem o potencial de contribuir para elevar o
nível de sentido e valor da alma”. Sendo eles de fibra, alma e sentir
caboverdianos estarão, por certo, de acordo comigo ao dizer que os seus nomes
fazem parte da partitura em que se assenta a universalidade da nossa música e
da cultura.
Carlos Barbosa – Kaka Barboza
Sem comentários:
Enviar um comentário