terça-feira, 20 de agosto de 2019

RAPIZIUS


                                                        

                                                MINHAS AMIZADES COM DIAHO

As pessoas podem interpretar isso de formas diferentes. Para mim é caso de amizade constante. É atracção salutar. É dedicação mútua. É assim. Quando pela noite dentro escrevinho no maço de papel de rascunho as ideias centrais de um poema ou de uma canção, o recolhimento apodera-se de mim, caio em silêncio absoluto. O cenário é de meia-luz. Passados instantes, sinto o aproximar de uma comparência do jeito para não ser sentido no imediato. O clima é de bem-estar. Estas visitas têm muito a ver com atraimento aliciante. Vêem brilhos. Prefiro dizer faróis. A maioria dos pecadores acredita em má assistência. Mas, não. É uma forma de convívio. Não no sentido de o indivíduo ser induzido a cometer coisas absurdas em obediência àquilo que o visitante quer que se faça, quer dizer, ceder a seus desejos levando o visitado a se esquecer de si mesmo. Nada disso. Há uma espécie de fusão de propósitos, tipo rendez-vous gerador de fortes doses de altruísmo dentro do indivíduo que o torna citadino do ambiente criado a sua volta em que o tempo não importa e nem tão pouco o que se vive no momento. A sensação é de ente solitário. A fronte, quer dizer os olhos fixam-se numa candência com o corpo a girar em torno de si mesmo sem sentido definido. O certo é que a sensação é de bem-estar; é de tranquilidade num ambiente cujas visões tocam nos seus limites, sendo cada momento é o nascimento fantástico de um motivo e a morte instantânea de factos inéditos.
Antes de me afastar do paraíso de Deus, que ao tempo cria que era bom de mais, mas que parecia não se importar comigo não obstante as marcas deixadas pela educação religiosa que não me trouxe nenhuma claridade, tudo parecia estar bem diante da resignação e da submissão ao temor a Deus, o que não dava espaço à fuga. Sim, escape para se alcançar outros limites. Foi assim que rejeitei e soltar-me do antes, até que em uma noite, sem pensar, ELE acercou-se de mim, visivelmente bem-humorado e amistoso, confidenciando-me: - doravante provarás a nossa amizade. Respondi: - que coisa fantástica! Acreditei. Mas, não fizemos acordos nenhuns e nem nos tornamos manipulador um do outro. Vinha quando quisesse e ia sem alarido. Jamais tive pesadelos nem tão pouco perturbações. Em determinado momento, perguntei pra mim mesmo: quem me está acompanhando! Sabendo que o meu relacionamento com ELE era impecável. Vinha e fazia-me sentir totalmente solto e criativo, sem precisar de recorrer a orações e a dogmatismos ignorantes. As provas estavam no que escrevia e no que compunha. Estava muito claro de que a nossa amizade era para valer.
São três e trinta da manhã, momento em que eu estou a ultimar o texto, acabo de verificar a retirada d’ELE, não de um estranho metediço, mas de um amigo que inunda meu corpo de serenidade e minh’alma de luz. Sinto-me desprendido e optimista. Adormeci, relendo este belo testemunho intitulado: Minhas Amizades com Diaho.

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Homenagem ao Poeta Sindicalista





PALAVRAS POR OCASIÃO DA HOMENAGEM AO SINDICALISTA OSWALDO ALCÂNTARA MEDINA CUSTÓDIO PELA UNTC-CS
A 21 DE SETEMBRO DE 2018

Na data de hoje, peço licença para, nestes poucos minutos que me são concedidos, fazer um registro, uma homenagem a um grande amigo, um bom militante de causas, um grande poeta criativo, um cidadão honrado, actuante e simples, um trabalhador que muito deu e tem dado para a sua terra. Estou a falar de Osvaldo Alcântara Medina Custódio.
Venho aqui falar de Oswaldo Osório não apenas como um filho destas ilhas, mas também como um defensor da liberdade, da justiça e do bem-estar para todos. Estou a falar de um dos fundadores do moderno movimento sindical caboverdiano, estou a falar de uma figura pública que iniciou a sua militância nos idos anos cinquenta/sessenta, integrando um pequeno grupo de jovens que pelo grau da consciência politica adquirida na luta contra a fome, a miséria, a ignorância, o abandono e as injustiças geradas pela vigência colonial, cedo manifestou a vontade de participar da luta dos movimentos estudantis e cívicos que protagonizavam a justiça, a autonomia e o progresso das ilhas.
Oswaldo Osório começou a sua actividade política muito jovem, tendo sido, em decorrência desta, pouco anos depois, seguido e perseguido pela PIDE/DGS que acabaria por leva-lo à prisão e sevícias físicas. Outros companheiros seus tiveram o mesmo destino. Tenho recordações desse período, apesar de ser muito mais novo do que ele. Ouvi falar de Oswaldo Osório quando ingressei nos escritórios da Casa Madeira – Agente de Navegação Marítima, em Mindelo, onde também ele trabalhava, antes de vir para a cidade da Praia, onde acabou por pertencer o núcleo fundador do Grupo de Acção Sindical, juntando-me a ele após minha transferência para a cidade da Praia, em Fevereiro de 1979. Foi o saudoso Guilherme Ferreira, membro fundador da acção sindical em Mindelo, colega de trabalho, que me pôs ao corrente da vida de e da militância do nosso homenageado. Numa das minhas vindas à Praia fui conhecer o homem de quem tinha ouvido falar. Encontrei um rapaz alto e de bom trato. Tudo aconteceu na maior cordialidade e fizemo-nos amigos. Lembro-me dele, enquanto empregado de escritório da JBC Lda – Praia, desdobrando-se para conciliar a vida pública com a de empregado comercial, naqueles anos de emprego difícil e de baixos salários, abdicando, jamais da sua condição de militante contra os males que na altura atormentavam as pessoas, as famílias, os trabalhadores e a juventude.
Foi a geração dele que influenciou a minha, mas, sobretudo, foi a coragem politica demostrada que abriu e alargou a consciência política de muitos de nós. Por ironia do destino, ambos, fomos parar ao núcleo de militantes que daria início ao movimento sindical caboverdiano – Grupo de Acção Sindical – fundado na cidade da Praia, meses antes da independência nacional, de que Oswaldo era o Coordenador, seguido de imediata criação do núcleo de acção sindical de Mindelo - Grupo de Acção Sindical – Delegação do Mindelo sob a direcção politica de José Luís Fernandes, membro da direcção do Partido – o PAIGC, dando-se desta forma a iniciação do movimento sindical caboverdiano, rompendo-se com o modelo de sindicatos corporativistas criados pela administração colonial que de modo algum serviam os interesses dos trabalhadores sindicalizados e que em nada servia o ambiente laboral caracterizado pelo desemprego, pelos salários baixos, pela ignorância, pela interdição de direitos cívicos e pelo abandono total. Constituído o movimento sindical com o advento da independência e o evoluir da situação politica nos principais centros urbanos - Praia e Mindelo - e posterior transformação do Grupo de Acção Sindical em Comissão Organizadoras dos Sindicatos Caboverdianos, Oswaldo Custódio assumiu a presidência da organização Sindical sediada na Praia, juntando-me a ele com minha transferência de Mindelo para a cidade da Praia, período de tempo em que passei a conhecer melhor o nosso homenageado, tendo-o como dirigente ponderado, cauteloso, orientador e comunicativo, apanágio de quem a vida proporcionara-lhe experiencia de toda a ordem.
Durante o seu mandato foram centenas as vezes que acompanhei o trabalho do Oswaldo Custódio nas lides sindicais, sempre com a mesma serenidade e ponderação nas tomadas de decisão e no relacionamento institucional. Sendo figura respeitada no mundo laboral ajudou a que o movimento sindical ganhasse prestigio e visibilidade. Muito me alegra ter tido a oportunidade de partilhar com o nosso homenageado a mesma sala de trabalho, o mesmo corpo directivo do movimento sindical nascente, a mesma delegação que nos conduziria à Guiné-Bissau e Líbia, presenciar convívios e confraternizações, onde eram autênticas a sua condição de sabedor e de condutor de homens, caracterizados por uma carga de simplicidade que só uma alma militante de causas e sentido de bem servir podiam caber numa só pessoa.
Eu observava e aprendia. Aprendi com a sua simplicidade, com a sua firmeza no exercício da autoridade, com seu espírito de justiça, com a sua coragem política, com a sua capacidade para o trabalho e sensibilidade para agregar seus concidadãos, principalmente, aprendi com seus exemplos de austeridade, honestidade e honradez.
Oswaldo Custódio, o nosso homenageado deixou sua marca no movimento sindical caboverdiano e na vida o que constitui um legado prestimoso que nunca deverá ser esquecido. Como cidadão, honrou todos os seus pares, fossem amigos ou concorrentes. Como homem cumpriu, e muito bem, a sua missão de militante da justa causa. Como poeta realizou o alto desígnio de cantar as ilhas e o seu povo trabalhador de forma eloquente e esperançoso.
Encerro, senhoras e senhores, dividindo com vocês o este pequeno texto, meu testemunho para com um amigo de longa data a quem devemos respeito e gratidão.
Muito obrigado

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Floris d'Ibyago




Cravo de burro

Chamaram-te cravo de burro
ó dor perfumada de cores
lindeza no breve do espeto
acenando ao gosto dos ares
que rojam achada galego.

Brotaste cravo do ermo
sabor indócil para o mel  
de travor verde ao gosto
de flor de planta multicor
primitiva das américas.
Tão longe é a meninez
do tempo em que enfloravas
tão remoto é achada galego
Hoje meu rosto é poente
num passeadouro transitório.

Tive a meus pés o ermo
os alíseos de achada galego 
e dotes teus ó cravo de burro
entretém-me o apegamento
de hoje te louvar em tardios versos.


quinta-feira, 30 de agosto de 2018

NO ADEUS AGOSTO





Num Adeus a Agosto

Senti música
Em gotas de chuva
Múltiplos ritmos  
Caindo dos beirais
Sonidos que dançam
Corações murchos
Minha rua
Ensopou-se de repente
De esférulas líquidas
Vindas do espaço
Do vidro baço
Olho o Pico d’António
Nuvens cinza planam
Olho o pátio
Páginas verdes das acácias
Decoram
Poemas da estiagem
Olho a Rua Poeta Mário Fonseca
Correm rios marrom
Cara-abaixo na corrente
Num adeus a Agosto
Duma azágua funesta


quarta-feira, 29 de agosto de 2018

HARMATÃO





É o Harmatão

Secura
Piso lento
Suplicio
Sacrifício
Tempo violento
Malevolência
Inclemência
Céu
Desarmado
Assombração
Secação
Estiagem
Fantasma
Fome
Olhos
Estáticos
Morte lenta
Campos
Moribundos
Espaços
Vagabundos
Lugares
Desolados
Olhares
Pensares
Enxadas
Dormentes
É o harmatão

sábado, 25 de agosto de 2018

RAPIZIUS




Aqui fala-se tanto de artistas e de amantes da música até de sucessos e de carreiras de uns tantos que jamais saíram do prato da gemada de got de Nho Mané Jon...

"É preciso aprender a ouvir com a inteligência e escutar além da camada mais superficial da música, percebendo e tomando consciência das relações estruturais e das sensações que a música evoca na gente." - Phillippe Lobo.

Neste momento há Bando de Neon - Traz di Son - de Djinho Barbosa - à procura do roteiro da chuva.

terça-feira, 14 de agosto de 2018

RAPIZIUS





                                                           
                                                                  Restaurado do Recycle.Bin


Apenas vi e li a parte que parecia cheirar a fedegosa. Mas o cujo não sabia que uso banho de eucalipto cheirosa da Serra de malagueta e cana de principal para feeling better. A minha ambição é gozar enquanto puder arpejar o Peregrino. O resto é carriçal da Ribeira de Manhanga. A menos chegasse a meia tigela os escritos desta mão esmaecida pela fraca sapiência, desta cabeça boémia, desta vocação que admira a ingratidão das palavras e seus dissabores. Amo a insubordinação aos brancos da terra e as suas vaidades, pois, a tigela jamais chegou à borda. Viciei em afastar-me. É tronco o que atrevo escrever. Palavrões de um descrente. Ruindade de um não universitário. É tronco os poemas que escrevo. É tela ruim de baixo valor como lua de galos burlões. Assim escrevo e continuarei a escrever, sem membros e sem muletas para andar. Nunca quis ser poeta. Cozinheiro, sim. Jamais seguidor de cânones instituídos. Um impostor do princípio meio e fim e da moral da estória. Talvez anotador de percursos do Peregrino e do Virgula, companheiros bondosos inseparáveis. Mas atenção senhor doutor poeta. Goze da erudição, da rede dos sábios e dos salões coloquiais. Poeta licenciado nunca, jamais. Licença para escrevinhar, tocar e compor, nunca Passaram-se vinte em cima de meio século. Tantos cálices de grogue entornados no prazer, tantas mulheres, tanto escabeche de chicharro degustado à uma da tarde na sala de jantar. Detesto bacalhau. Gostei da alcunha que a fedegosa trazia no cheiro. Sou maior vivo de todos os poetas menores. Sim, senhor poeta profissional. Aqui nas ilhas tudo é velho. Até o escaravelho é velho. Novo, apenas o falo do recém-nascido. Ontem eu contava à minha neta a história que falava de um feiticeiro muito culto que se intitulara Irã. Fazia e acontecia com seus fregueses. Em lugar de fazer o que tinha a fazer, isto é, iludir seus sectários, insistia em apoucar os outros, que, como ele, aldrabavam seus seguidores. Um dia tombou de si mesmo e o mundo do feitiço não estava lá para o amparar. No pódio dos augúrios, sob o tamarindeiro, ficaram os artefactos que interessava ninguém manusear. Valeu o axioma - daninho tem medo di danado.       





RAPIZIUS

                                                                                                         MINHAS AMIZADES COM DIAHO ...