PALAVRAS POR OCASIÃO
DA HOMENAGEM AO SINDICALISTA OSWALDO ALCÂNTARA MEDINA CUSTÓDIO PELA UNTC-CS
A 21 DE SETEMBRO DE
2018
Na data de hoje, peço licença para, nestes poucos minutos
que me são concedidos, fazer um registro, uma homenagem a um grande amigo, um
bom militante de causas, um grande poeta criativo, um cidadão honrado, actuante
e simples, um trabalhador que muito deu e tem dado para a sua terra. Estou a
falar de Osvaldo Alcântara Medina Custódio.
Venho aqui falar de Oswaldo Osório não apenas como um filho destas
ilhas, mas também como um defensor da liberdade, da justiça e do bem-estar para
todos. Estou a falar de um dos fundadores do moderno movimento sindical
caboverdiano, estou a falar de uma figura pública que iniciou a sua militância
nos idos anos cinquenta/sessenta, integrando um pequeno grupo de jovens que
pelo grau da consciência politica adquirida na luta contra a fome, a miséria, a
ignorância, o abandono e as injustiças geradas pela vigência colonial, cedo
manifestou a vontade de participar da luta dos movimentos estudantis e cívicos que
protagonizavam a justiça, a autonomia e o progresso das ilhas.
Oswaldo Osório começou a sua actividade política muito jovem,
tendo sido, em decorrência desta, pouco anos depois, seguido e perseguido pela
PIDE/DGS que acabaria por leva-lo à prisão e sevícias físicas. Outros
companheiros seus tiveram o mesmo destino. Tenho recordações desse período,
apesar de ser muito mais novo do que ele. Ouvi falar de Oswaldo Osório quando
ingressei nos escritórios da Casa Madeira – Agente de Navegação Marítima, em
Mindelo, onde também ele trabalhava, antes de vir para a cidade da Praia, onde
acabou por pertencer o núcleo fundador do Grupo de Acção Sindical, juntando-me
a ele após minha transferência para a cidade da Praia, em Fevereiro de 1979.
Foi o saudoso Guilherme Ferreira, membro fundador da acção sindical em Mindelo,
colega de trabalho, que me pôs ao corrente da vida de e da militância do nosso homenageado.
Numa das minhas vindas à Praia fui conhecer o homem de quem tinha ouvido falar.
Encontrei um rapaz alto e de bom trato. Tudo aconteceu na maior cordialidade e fizemo-nos
amigos. Lembro-me dele, enquanto empregado de escritório da JBC Lda – Praia,
desdobrando-se para conciliar a vida pública com a de empregado comercial,
naqueles anos de emprego difícil e de baixos salários, abdicando, jamais da sua
condição de militante contra os males que na altura atormentavam as pessoas, as
famílias, os trabalhadores e a juventude.
Foi a geração dele que influenciou a minha, mas, sobretudo,
foi a coragem politica demostrada que abriu e alargou a consciência política de
muitos de nós. Por ironia do destino, ambos, fomos parar ao núcleo de militantes
que daria início ao movimento sindical caboverdiano – Grupo de Acção Sindical –
fundado na cidade da Praia, meses antes da independência nacional, de que
Oswaldo era o Coordenador, seguido de imediata criação do núcleo de acção
sindical de Mindelo - Grupo de Acção Sindical – Delegação do Mindelo sob a
direcção politica de José Luís Fernandes, membro da direcção do Partido – o
PAIGC, dando-se desta forma a iniciação do movimento sindical caboverdiano, rompendo-se
com o modelo de sindicatos corporativistas criados pela administração colonial
que de modo algum serviam os interesses dos trabalhadores sindicalizados e que em
nada servia o ambiente laboral caracterizado pelo desemprego, pelos salários
baixos, pela ignorância, pela interdição de direitos cívicos e pelo abandono total.
Constituído o movimento sindical com o advento da independência e o evoluir da
situação politica nos principais centros urbanos - Praia e Mindelo - e posterior
transformação do Grupo de Acção Sindical em Comissão Organizadoras dos
Sindicatos Caboverdianos, Oswaldo Custódio assumiu a presidência da organização
Sindical sediada na Praia, juntando-me a ele com minha transferência de Mindelo
para a cidade da Praia, período de tempo em que passei a conhecer melhor o
nosso homenageado, tendo-o como dirigente ponderado, cauteloso, orientador e
comunicativo, apanágio de quem a vida proporcionara-lhe experiencia de toda a
ordem.
Durante o seu mandato foram centenas as vezes que acompanhei
o trabalho do Oswaldo Custódio nas lides sindicais, sempre com a mesma
serenidade e ponderação nas tomadas de decisão e no relacionamento
institucional. Sendo figura respeitada no mundo laboral ajudou a que o
movimento sindical ganhasse prestigio e visibilidade. Muito me alegra ter tido
a oportunidade de partilhar com o nosso homenageado a mesma sala de trabalho, o
mesmo corpo directivo do movimento sindical nascente, a mesma delegação que nos
conduziria à Guiné-Bissau e Líbia, presenciar convívios e confraternizações,
onde eram autênticas a sua condição de sabedor e de condutor de homens,
caracterizados por uma carga de simplicidade que só uma alma militante de
causas e sentido de bem servir podiam caber numa só pessoa.
Eu observava e aprendia. Aprendi com a sua simplicidade, com
a sua firmeza no exercício da autoridade, com seu espírito de justiça, com a sua
coragem política, com a sua capacidade para o trabalho e sensibilidade para agregar
seus concidadãos, principalmente, aprendi com seus exemplos de austeridade,
honestidade e honradez.
Oswaldo Custódio, o nosso homenageado deixou sua marca no
movimento sindical caboverdiano e na vida o que constitui um legado prestimoso que
nunca deverá ser esquecido. Como cidadão, honrou todos os seus pares, fossem
amigos ou concorrentes. Como homem cumpriu, e muito bem, a sua missão de militante
da justa causa. Como poeta realizou o alto desígnio de cantar as ilhas e o seu
povo trabalhador de forma eloquente e esperançoso.
Encerro, senhoras e senhores, dividindo com vocês o este
pequeno texto, meu testemunho para com um amigo de longa data a quem devemos
respeito e gratidão.
Muito obrigado
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