LANÇAMENTO DA
ANTOLOGIA
CABO VERDE PROSA
LITERÁRIA PÓS-INDEPENDÊNCIA
DEPOIMENTO
Caro confrade Jorge
Carlos Fonseca, poeta e prestigiado Presidente da Republica, agradeço a
aprovação da apresentação da obra - Cabo Verde Prosa Literária Pós –
Independência - neste magnifico espaço – Sala Pequim da Presidência da
Republica, bem como o programa do ciclo de leitura, gesto honroso, justamente
na vizinhança do dia da celebração dos 110º aniversário do nascimento de um
destacado patrono da nossa Academia de Letras – Baltazar Lopes da Silva.
Daqui saúdo a produtiva cooperação com o Banco
Interatlântico, instituição benemérito da nossa Academia de Letras, quem
suportou por inteiro esta bela obra; louvo as organizadoras desta suculenta
compilação de contos curtos: as Professoras Érica Antunes, Fátima Bettencourt e
Simone Caputo Gomes, membros da ACL,
pela gentileza, agudeza de espirito e pela capacidade de realização deste belo
exemplar em pouco tempo; Realço o belo trabalho da Acácia Editora, na pessoa do
Sr. Joaquim Morais, pela minúcia e cuidados dispensados, pela qualidade e boa
apresentação desta moderna coletânea de contos. O meu muito obrigado aos
cooperadores e á ilustre assistência, sempre nossa seguidora, pela presença e
estímulo.
Permitam-me insinuar
que recolher e compilar o melhor nunca foi simples, mas romper estorvos e
fazer, é superar hesitações.
As organizadoras
foram sensatas na preparação deste autêntico mostruário de novas letras, de
novos mensageiros, de novos escultores do verbo, todos eles edificadores da
cidadania operante (em crescimento) cujo talento e fantasia fazem-nos viajar
pelo mundo e pela sociedade crioulos, mas também para fora dos limites da ilha,
invocando ambientes e visões, alegando e narrando intrigas e réplicas,
narrativas estas erigidas em marco colateral ao da claridade enraizado no
regionalismo e no universalismo, como defendia o poeta e ensaísta Manuel Lopes
ao evocar a problemática da literatura nos meios pequenos ou acanhados e nos
meios grandes, sendo o marco de agora inserido no tablado global do mundo,
distinto em rumo e modelo literários, sem que a pena nacional nascida do sal da
terra, têmpera da trova, da poesia e da prosa ilhéus, perdesse emoção e vigor.
Ao tempo da
claridade, pouco parecia muito, ao invés, hoje, tempo das novas letras, vários
são pouco, mesmo com a anulação dos limites que a criatividade de outrora se
sujeitava, não obstante, editar, ainda é freio a superar. Porém, criar e
produzir são tarefas que cabem aos escritores, vulgarizar é empresa das
editoras nacionais e externas, mas zelar e conservar o património literário
construído cabe, primeiro, aos autores e suas associações de classe, cumprindo
ao estado defendê-lo e protege-lo através de medidas e de acções concretas,
sabendo que as letras cabo-verdianas são os alicerces da nossa identidade e
massa da caboverdianidade no mundo, como tal, devem, todo o tempo, estarem
vivas nas escolas, nas universidades, nas livrarias, nas bibliotecas, para
estudo e difusão, e também nas mãos dos leitores e traduzi-las em outros
idiomas e coloca-las noutros espaços de leitura.
Estamos perante uma
colecção de textos em prosa que espelha o elevado interesse da Academia Cabo
Verdiana de Letras em divulgar as criações dos autores nacionais, alguns bem
conhecidos, outros, nem tanto, sendo, todos eles, obreiros de estilos e de
contares do passar das ilhas, das gentes e dos esquemas de comportamento,
reflectindo apegos, visualizações e ponderações, quiçá, revirares da vida,
ciente da perpetuação dos seus nomes e das suas obras e ao mesmo tempo
presenteá-las aos amantes do livro e da leitura onde quer que estejam.
A presente Antologia,
sem forçar o calendário, refere-se ao período aludido na capa do livro - Cabo
Verde Prosa Literária Pós – Independência, e revela com prudência e audácia um
percurso prolífico dos autores e das letras cabo-verdianos neste lapso de
tempo. Trata-se de um projecto e de uma solicitação da ACL cujo labor foi
confiado a um trio notável de cultoras referidas na portada desta comunicação,
entidades de confirmada competência e dedicação na valorização e na difusão das
letras nacionais, um debruçar aturado sobre prosa diversa de escritores vários,
resultando neste bonito indicador do itinerário da palavra nos mais variados
sentidos, acomodando iniciativas, crer e querer crioulos, ideando lugares que
decerto amaríamos viver perenemente.
Esta obra identifica
um tempo portador de pactos, de retornos e de inícios, envolvendo quarenta e
cinco títulos de outros tantos autores com os pés fincados no mesmo centro e de
olhos postos nos graus da girante da bússola determinante da aventura crioula,
proeza do “navio de pedra que busca o rumo sem poder encontrar-lo no seu
lugar”, citando o eloquente poeta Gabriel Mariano, nau, hoje, transformada
botão do clik portador de novos rumos e viagens, de pontes sobre o mar que rola
novos sonhos, de mãos inventoras do molhado que não se tem, de cultura no corpo
da comunicação, mas, também, terreiro da
reconstituição permanente do sujeito poético, cutelo, onde, os poetas e os
escritores hasteiam o pendão identitário, abrigo, onde residem, renascem,
transformam-se, criando episódios a partir da vida vivida e prenhes de caminhos
vindouros.
Ilustres senhores
situamo-nos no tempo das novas letras.
Termino, dizendo, que
ao alinhavar estas palavras uma incerteza bailava-me nos sentidos: será que a
literatura pós-independência é deveras impactante e portadora da mesma força
incitadora tal como a que antecede a este período?