sexta-feira, 25 de novembro de 2016

RAPIZIUS


Por mais simples que seja um livro e por mais acessório seja o seu autor, ele representa uma verdade particular, aquela que ao próprio diz respeito, a que lhe coube verificar e plasmar, sem nada desafiar e nem pretender alcançar altares, senão cumprir com rigor e com boa-fé os ditames da sua sensibilidade artística.
Aprender a falar escrevendo é um acto lisonjeiro e faço-o porque a escrita não é um tratado que se celebra com ninguém, antes um processo prático de exercitar o sonho, ou de conferir as realidades repentinas que ocorrem durante o acto reflexivo, aferição que geralmente convida à tomada de notas, sendo, a resultante o convite à uma vida plena de satisfações, talvez, a que amaríamos viver.
O acto da escrita não é acto isolado. Nunca estou só quando escrevo. Pressinto desdobramentos e revezamentos, quiçá, incorporações. Ilusório ou não tal facto, meus textos é dele a sua sombra, já que a criação está ao serviço do poeta assim como a obra para o seu autor. A imagética que as palavras ajudam a construir e a perpetuar no papel é a prova disso.
A natureza do que escrevo reside na necessidade do regresso ao passado a convite das inquietudes que buscam na fonte o som dos acontecimentos, o som da mundivivência residente na memória colectiva. Há no que escrevo uma forma de expressar que concilia narrações com disfunções de ordem técnica a que os temas sugerem e se sujeitam, sendo a estruturação poética opção intencional ou seja um repto à estética no uso absurdo de imagens de uma realidade existente ou reinventada, absorvendo o sentido das máximas, dos provérbios, dos mitos, das lendas, dos hábitos e costumes de uma vivência secular.
A modernidade hoje propalada e sentida em tudo quanto é criação dos homens, aliada á ideia de que a globalização gradua os povos e os integra na ordem vigente comandada pelos mídias, é um facto ou um dado, ou um processo que pode até beneficiar, mas beneficiar sem delapidar, beneficiar desde que não imponha regras que aniquilem a razão e o essencial da identidade das nações e dos povos. Comungar do mundo global não implica subserviência, nem acatamento mudo de tudo quanto se apelida de actualização.
( um poema a exemplificar o texto em cima)
Erguer-se-á neste retracto a roda da espiga
inscrita na banda tricolor
que deu terra aos braços das ilhas.
Erguer-se-á nesta palma d’água a trova
e o canto das enxadas
e não haverá ferrinho nem violão
mais cantável que as enchentes e cachoeiras
guiando pão á boca e pardais aos beirais.
Erguer-se-á neste ombro da terra o rio da vida
no riso dos meninos
e não haverá destino outro nem noites
e sonhos trevosos nos lares e nas manjedouras.
E não haverá nada mais palpável
do que dois mares de água um
na boca das levadas e outro na proa do pescador.
Erguer-se-á neste charco o grito do porvir do chão
inscrito na banda tricolor de sol, suor, verde e o mar
no sempre chão dos nossos avós.
Erguer-se-á neste pedaço o poema novo
do poeta sem nome.

KB

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

RAPIZIUS



Um camponês foi ao café, senta-se ao lado de uma citadina e pede uma taça de ponche de mel. A mulher olha para ele e comenta:
- Que sincronismo! Eu também pedi ponche de mel.
- Hoje é um dia especial para mim - diz o camponês - Estou a celebrar.
- Hoje é um dia especial para mim também! - diz a senhora - Também estou a festejar.
- Que maravilha! - diz o camponês.
Olharam-se alegremente e batem as taças. Nisto o homem pergunta:
- O que é que a senhora está a celebrar?
- O meu marido não consegue ter filhos. E hoje o meu médico disse-me que estou grávida.
- Olha como Deus é justiceiro. Que maravilha! - diz o homem. - Sou criador e faz algum tempo que as minhas cabras não se engravidam. Consegui! A barriguinha delas já está à vista.
- Isso é formidável - diz a mulher - Como é que conseguiu isso?
- Mudei para o bode do vizinho - diz ele.
A mulher sorriu, brinda novamente e diz: - Que sincronismo!


domingo, 20 de novembro de 2016

POEGRAMA





para ti, neguinha, lá do lugarejo
onde o vento bate à porta
entra em meu lugar
para deixar-te o sibilo dum beijo
não é o aroma que vestes - o feitiço
a curvidade das tuas mascaras
nos meus muros de carne - o delírio.
restam-me visões e ingenuidade
de um braseiro a fumear desoras

e se te falasse assim da saudade

RAPIZIUS

   
Para comparar peguei de um livro de poemas de um autor da terra, já lido, voltei a ler alguns deles com olhos mais finos e fiquei com muitas dúvidas se eu estava perante arte poética ou encenação poética, como dizia o Mestre Mario Fonseca.
Então, fui buscar duas considerações de poetas lúcidos.
Mas afinal o que é poesia?
O poeta Manuel Bandeira assim se expressou:
"Compreendi que a poesia está nas palavras, se faz com palavras e não com ideias e sentimentos, muito embora, bem entendido, seja pela força do sentimento ou pela tensão do espírito que acodem ao poeta as combinações de palavras onde há carga de poesia."
O escritor italiano Umberto Eco define a poesia de uma forma simples e eficaz:
"Poesia é aquela coisa que muda de linha antes que a página tenha terminado."
Gente, como é conduzir essa coia que muda de linha?

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

RAPIZIUS


Há coisas formidáveis, pois não!
Gente, acaba de dar entrada no parlamento cabo-verdiano uma inciativa legislativa que propõe consagrar o Dia 13 de Janeiro como data de igual valor e conteúdo histórico que o de 5 de Julho. 
Assim as duas datas terão a mesma dignidade histórica e política ou seja o parlamento reunir-se-á, no dia e hora, em sessão solene para celebrar o 13 de Janeiro com discursos dos sujeitos com assento parlamentar, excluindo o governo, tal como o 5 de Julho.
Adivinho a tentativa de branqueamento do Dia Maior da República - o 5 de Julho - e enaltecimento do 13 de Janeiro - como dia da pátria da bandeira azul da liberdade e da democracia - adivinho a banalização da história da luta secular do povo das ilhas pela sua autonomia, liberdade e o progresso. 

Adivinho o banquete algures num recanto aprazível da cidade de celebração da imposição de um facto - dia de eleições multipartidárias - sem cunho e nem respaldo patriótico no sentir cabo verdiano. 
Nunca um trovador das ilhas erigiu 13 de Janeiro como temática da trova nacional, jamais um braço, uma melodia, uma voz reivindicou tal glória. Jamais um cidadão singular o reivindicou para si. O 13 de Janeiro é data e facto imposto por interesseiros políticos, hoje no poder. Estamos perante o delírio da mediocridade e a banalização do sério e do senso patriótico da nação.
Fazer com que fique banal ou tornar vulgar ou vulgarizar-se é o que os tempos modernos sugerem perante o conceito de história e de memoria colectiva, adivinhando-se uma saída fácil como fútil e de tentar valorizar a rabidância politica instalada no mercado eleitoral das ilhas.

RAPIZIUS

                                                                                                         MINHAS AMIZADES COM DIAHO ...