SANTA CATARINA - A CRUZADA DE MAL FAZER (1)
Em 2008, Santa Catarina escolheu e elegeu o mpd, pondo à frente da Câmara Municipal o tecnocrata Francisco Tavares que, irreversivelmente, hoje, deixou de ter o apoio da maioria dos santacatarinenses, justamente porque o banco do poder foi conseguido à custa de muita, mas muita coisa suja tramada nas vésperas das eleições pelos ventoinhas. O “Txiko Tabari” e o staff ventoinha foram escrupulosos na montagem do esquema enganoso. Ganharam. Não se venha dizer que foi pelo programa eleitoral exibido ao público – Santa Catarina merece mais – folheto de soberbo teor, que doravante passamos a comentar, que “Txiko Ta” ascendeu ao poder autárquico. Longe disso. Há muito e muito caso por detrás deste episódio. Se o povo das ribeiras abrisse a boca e contasse da sua justiça, jamais jagunços feitos políticos recrutariam a desoras os eleitores a troco de dois mil e quinhentos escudos por cabeça. Fez e ficou feito. Mas é a tradição a dizer que o mundo não é do macaco.
Vamos deixar esta história bicuda, para passarmos a examinar o que cada um dos cabeçalhos do atordoado Programa Eleitoral 2008/2012 do MpD escrevia e propunha como acção programática para a Câmara de Santa Catarina, para o concelho e para os munícipes, com “Txiko Ta” à frente. Na verdade o que realmente conta, agora, é o que fez pelos munícipes e por Santa Catarina. Se o MpD vem cumprindo à risca o prometido. Vejamos:
PROGRAMA ELEITORAL - O NOSSO COMPROMISSO COM SANTA CATARINA - MpD- VISÃO
“Santa Catarina será, em 2012 o concelho pivô no processo de desenvolvimento do interior de Santiago, transformando Assomada numa cidade de referência nacional e alternativa à Praia, em serviços e oportunidades, do conhecimento, à cultura, placa giratória do comércio da região, como elevado nível de desenvolvimento humano”.
Caros conterrâneos já vamos em 2010 avançado e a VISÃO não descolou da face do papel e nem vai poder descolar tão cedo, justamente, por ser apenas um testemunho eleitoralista de difícil concretização por muitas razões, dentre elas, o facto de o seu guia, “Txiko Ta”, não dispor de engenho para tal e nem dispõe de miolos capazes à sua volta para o ajudar a verter na prática o que descreve e enfeita o folheto de propaganda ventoinha. O homem planeou reeditar momentos, percursos e vivências como valimento para o tempo presente e sair-se campeão. Mas falhou. Falhou redondamente. A isto chama-se cruzada de mal fazer.
O documentado nos diz que Santa Catarina, concelho, funcionou sempre como uma espécie de pivô na valoração de todo o interior de Santiago e das suas gentes desde os dias primeiros da sua fundação. Basta aludir que Santa Catarina nasceu concelho de segunda classe, atraindo capacidades de várias origens que ali se instalaram para fazerem as suas vidas. Portanto, há uma retaguarda viva e segura que deve ser bem avaliada. Virá-lo um concelho moderno e pivô do desenvolvimento como acima se propõe, implicaria a incorporação de muita coisa séria e muita união de vontades. Ser Assomadense devoto é a primeira condição. Além disso seria também necessário, entre outras coisas, contar com um líder de facto, com capacidade de formatar uma autoridade esclarecida, autêntica e metódica. Contar com uma equipa coesa, prezada e conhecedora do processo histórico do concelho e do percurso sócio-laboral e cultural das suas gentes, um colectivo apostado no trabalho sério em benefício de todos. Contar com uma direcção que levasse em devida conta todos, homens, mulheres, jovens e crianças, criando neles o sentido de pertença, de zelo pelo bom nome social da sua urbe e da sua localidade. Enfim, uma direcção sem rabo-de-palha.
Que cidade referência nacional e alternante à Praia erigir, se o poder em exercício é reportado como um poder complexado, que exclui pessoas de opiniões contrárias; um poder autocrático alimentador da dependência das franjas mais carenciadas da sociedade; um poder exercido em arranjo com mandos espalhados por comissários e zeladores políticos financiados pelo orçamento camarário; um poder que passa a vida a posar para os ecrãs da TV mimicando e dando shows de visões, exibindo-se como a pérfida ramaria da fedegosa; um poder que vale-se de fraseamentos colocados para simular e iludir a sapiência dos outros; um poder que fantasia sempre para se conservar vistoso; enfim, um poder que se perdeu na ideia da construção da cidade pivô alternativa à Praia. Rigorosamente, um poder de “Txiko” para “txikas” e “txikitos” do regimento ventoinha.
Que serviços e oportunidades foram ou estão sendo criados? Estão no terreno os alicerces destes tais serviços captadores e geradores de negócios, criadores de empregos, dinamizadores da economia local e de capacitação dos activos e dos recursos humanos? Mas quem dentro da câmara, refiro-me ao presidente e aos vereadores, está em condições de promover isso? Com que disponibilidade e argumentos? Com que conhecimento e acuidade? Com que parceiros e parcerias se o próprio governo da república é mal querido e não é solicitado. Contrário a o que se apregoa por aí pelo chefe dos ventoinhas, “o governo vem sufocando os municípios”, é bom frisar que é o próprio presidente da Câmara Municipal de Santa Catarina o estorvo maior disso tudo. Ele é o primeiro a considerar e a pugnar pela menos boa cooperação entre a autarquia e o poder central. Foi ele em pessoa a fustigar de afagos o seu conterrâneo José Maria Neves, Primeiro-Ministro, até não poder mais, durante a campanha eleitoral e mais agora na sua retirada estratégica do encontro sugerido pelo governo onde questões de interesse geral e local – o saneamento, o ambiente e a saúde pública nos municípios – estavam sobre a mesa, assunto, que claramente os edis emepedinos recusaram a participar. E agora! Adiantar como e com que linhagem? Com que recursos? Que serviços, que cooperação e que oportunidades emergirão desta forma de agir e de estar na política, de tratar assuntos que interessam o Concelho e os munícipes? Tenter no balaio furado é o mesmo que semear grãos ao vento.
Este comportamento é sem dúvidas de quem apenas quer cumprir o repisado repertório e aparecer em conferências de imprensa a divagar mesmo sabendo que os resultados até agora conseguidos estão aquém dos pretendidos ou programados, bem entendido, na gíria crioula diz-se que a tromba não abençoa a função.
Oportunidades, sim! Devia-se pensar em criar sérias oportunidades para todos e não em forjá-las clandestinas e facilitadas a pessoas escolhidas a conta-fios e a grupos afins. Em lugar disso, devia-se organizar um processo de diálogo transparente e não o da fala selectiva cujas instruções são do domínio de certos indivíduos, e só eles, para ganharem sozinhos o direito de participar e de inteirarem-se dos concursos e dos procedimentos que por lei e pela moral deviam ser comuns e extensivos a todos os que neles quisessem apostar. Aclamar ética é uma coisa. Ser ético é bem outra coisa. Pois, vaga para clientes políticos é que nunca deveria ser o caminho e a política a seguir-se pela Câmara Municipal, pelo seu presidente e por ninguém exercendo funções públicas.
Falando de cultura, quem e com quem, dentro da Câmara Municipal de Santa Catarina, a cultura deve contar para que ela seja elemento aglutinador e gerador de dinâmicas positivas para a sociedade e para a cidade que se quer pivô, com desenvolvidos centros de interesses alternativos e de referência nacional, com conhecimento e participação cidadã e com desenvolvimento humano?
Será que com estes dirigentes, pagos para pensar e trazer soluções adequadas, a cultura e o concelho ganharam mais nome e realce? Será que com estes dirigentes pouco urbanos, nada desembaraçados e simpáticos, de carente probidade, a cultura e os seus mentores cresceram e avultaram-se, contribuindo para que o concelho seja placa giratória e a cidade pivô de referência nacional e alternativa à capital do país que por sua vez também está sumida em promessas incumpridas e na dificuldade de promover ambientes limpos e prazeirosos, pelo menos isso. Haja buraco para sucumbir estas palhaçadas.
O que se vislumbra é que os eventos comemorativos corriqueiros (a dita promoção da cultura) e a forma como estes vêm sendo pensados e orientados, desperdiçando tempo e importantes somas em festanças musicadas, não abonam e não valorizam a cultura santacatarinense, não cria e não a incrementa, antes pelo contrário massacra, mascara e aliena-a cada vez mais.
O espírito da cultura vem da força do conhecimento e do domínio que o homem tem da sua realidade e da sua relação com os semelhantes e com a natureza. A sua transformação em emanações e expressões, sem perder de vista as raízes, depende não da intenção dos pelouros camarários e seus agentes, mas sim da ciência ganha, do dom e do talento dos criadores da cultura. Ela não pode estacar-se no ram-ram das rambóias formais, mas sim afigurar-se com nobreza em todo o lugar onde ela é praticada e notada. É amparando a cultura que ela se exercita e favorece a si própria, porque pôr o mel na boca do burro é nem perca de tempo, é injuriar a natureza.
Como combinar, então, a prática existente, o paleio político em redor da cultura, os ensaios pela anexação oficiosa dos agentes culturais e ou grupos artísticos a contabilidades e a lucros militantes calculados em função das necessidades do momento e dos fitos partidários, descurando-se a verdadeira promoção cultural adentro de um programa bem planeado e financiado para a obtenção de resultados e espaços de celebração e de exaltação da arte em prol da fortificação da auto-estima dos seus agentes e da energia cidadã que a cultura reclama e que a sociedade requer e aprecia.
Nada é fruto do acaso minha gente. Já passamos do tempo e da fase da impulsividade. Hoje em dia há várias disponibilidades, há estudos e formas de aprendizagem que apontam para soluções de muitas questões que impendem sobre as nossas vidas e sobre as escolhas que fazemos em cada momento. Aconselhar a nós mesmos a sermos leais e inatacáveis, é provar que somos homens com Agá Grande e Cultos. Sabiam que a fedegosa é uma plantinha rural e vistosa, roçando nela exala um aroma chamado cheiro do escorraço. Então não há gente assim, cujo aceno e bafejo afugenta logo os demais?
Voltarei com novos comentários proximamente.
- Carlos Alberto (Kaka) Barbosa -